quinta-feira, 25 de junho de 2015

A minha estante | Macbeth

Nome original: Macbeth
Nome em Portugal: Macbeth
Autor: William Shakespeare
Editora: Relógio D'Água
Nrº de páginas: 144
Estou em crer que não sou a única que, depois de comprar um livro, fica cheia de vontade de o ler de um só trago mas quando o abre pensa "não, não vai ser hoje" e de facto não é nesse dia, nem no seguinte, mas algum dia é. Aconteceu-me com a primeira obra que me chegou às mãos de William Shakespeare. Não se assustem, eu conheço os títulos e os assuntos das obras mais famosas, mas nunca tinha lido nenhuma do princípio ao fim. Andava com muita vontade para ler Macbeth, mas sempre que pegava nele sentia que não lhe ia dar atenção que merecia. Decidi dedicar-lhe as minhas atenções ontem e acabei de o ler à cerca de uma hora. Não foi de um trago, mas foi de dois.
Tinha medo de não conseguir ler este livro por duas razões. A primeira é a mais óbvia - é a primeira obra de teatro que li, era uma experiência completamente nova para mim. A segunda razão é a idade do livro, que data de 1606 (não se conhece a data em que foi escrito, presume-se que entre 1599 e 1606, sendo que esta é a data comummente utilizada). Não que eu não esteja habituada a ler livros antigos: os meus favoritos datam de 1877 (Anna Karenina de Leo Tósltoi) e 1925 (The Great Gatsby, de F. Scott Fitzgerald) mas tinha medo que esta, sendo muito mais antiga, fosse desactualizada e com pouco interesse para o mundo actual. Não me demovi e descobri uma obra de fácil leitura e não só. Apesar dos mais de 400 anos, continua a ser extremamente actual.
A peça inicia-se com o que me poderia facilmente pousá-la num canto e nunca mais pegar nela: três bruxas que planeiam o próximo encontro que será com Macbeth e Banquo. Mas eu não podia fazer isso a Shakespeare. Mostrei respeito e dureza e continuei, na esperança daquilo fazer sentido na minha cabeça de jovem nascida nos anos 90. E foi, de facto, fazendo sentido. No encontro que estas bruxas têm com Macbeth e Banquo fazem algumas previsões que parecem inexplicáveis a Macbeth. Previram que Macbeth se iria tornar Barão de Cawdor e se tornaria, posteriormente, rei da Escócia (apesar do Rei Duncan se encontrar de perfeita saúde). As previsões não foram só para Macbeth. Estas bruxas saudaram ainda Banquo, a quem disseram que apesar de nunca vir a ser rei, a próxima distania aos seus descendentes estava reservada.
Tudo isto parecia disparate para Macbeth, principalmente tornar-se rei. Parecia disparate até que, pouco tempo depois das bruxas desaparecerem, surge um mensageiro para o informar que o Barão de Cawdor tinha sido enforcado e todos os seus valores e títulos pertenciam a Macbeth. A surpresa é tanta que manda uma carta a Lady Macbeth, sua esposa, para a informar do sucedido.
Lady Macbeth não perde tempo em ver-se como rainha e engendra um plano para fazer do seu marido rei, planeando matar o Rei Duncan quando este é convidado na sua casa. A partir desse momento, gera-se uma corrida desenfreada e sangrenta pelo poder, uma corrida ao poder em que não se olha a meios para atingir os fins e onde meias medidas não parecem ter importância. É por isso que digo que Macbeth, apesar de ter sido escrita no início do século XVII, podia ter sido escrita ontem.
Apesar da actualidade da peça, o que me fascinou mais foram as personagens e a forma como as conhecemos e como são desenvolvidas. Ninguém nos diz nada das personagens, no entanto nós podemos claramente perceber como são através das suas falas e atitudes. Lady Macbeth é a minha personagem favorita e que tem o meu respeito, apesar de controversa e profundamente manipuladora. É exímia e bem construída do início ao fim - assim como Macbeth. Conhecemos Lady Macbeth como uma personagem sem escrúpulos, implacável e capaz de absolutamente tudo pelo trono. Aparenta também não ter remorsos nem hesitar na hora de derramar sangue (ou fazer os outros derramá-lo). Mas Lady Macbeth entra numa espiral decadente que a conduz à loucura e é brilhante a forma como a sua vida termina - tem tanto de brilhante e belo como de trágico e triste - a limpar constantemente as suas mãos, para tentar limpar delas o sangue que derramou e fez derramar, cheia de remorsos e culpa e a ver como única saída o suicídio. Macbeth é, no início, hesitante e muito obediente à esposa e às suas vontades, e tem, frequentemente, ataques onde questiona as suas atitudes e em que duvida de si mesmo mas vai construindo confiança, deixa de ser hesitante quando mata, não sente remorsos nem culpa e julga-se superior e incapaz de ser derrotado por qualquer homem que nasça de uma mulher. É fascinante também a forma como estes dois carácteres se desenvolvem em linhas paralelas - Lady Macbeth é inicialmente aquilo que Macbeth se torna no final.
Só tive pena de não ter lido a versão original, em inglês. Na altura em que fiz a encomenda estive até ao último minuto a decidir se comprava em português ou inglês. Considero-me fluente em inglês mas a linguagem utilizada em Macbeth é, claramente, arcaica e eu tinha medo de não conseguir acompanhar e fazer com que muito fosse lost in translation. Espero um dia ler no seu original.
Fiquei agradavelmente surpreendida e sem dúvida que vou voltar a ler Shakespeare. O próximo será Hamlet, a obra relativamente à qual tenho maior curiosidade e que está na minha "lista de espera" à mais tempo.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Porque vale a pena ler e vale a pena ver

Só para terminar a conversa sobre Oslo - fuck them all and everything will be wonderful (já vos disse que adoro o nome?), deixo-vos um pequeno vídeo que está na conta do YouTube de "Guimarães Arte e Cultura" e um excerto da peça. Acho que vale mesmo a pena e se um dia a peça estiver por perto, vão ver porque só têm a ganhar!


Amiga
Vais matá-lo com o quê?
Achas que não te vão apanhar?

Mãe
Conheço uma pessoa que o vai fazer por mim

Homem 1
Pagou a alguém?

Mãe
Não te convidei a ti porque não soubeste fodê-la
O preservativo estava vazio, lembras-te?
Pensas que não fui ver?
Se não tiveste coragem para foder a minha filha também não terias coragem para matar o presidente, entendes a lógica?
Que quem aqui está a favor da morte do presidente levante a mão?
(aos poucos, vão levantando as mãos, excepto a Amiga)
Isto sim, é a verdadeira democracia
Todos querem mas ninguém avança
E quem acredita na revolução?
(ninguém levanta a mão, excepto a Amiga)

Amiga
Pagaste-lhe com que dinheiro?

Mãe
Dei-lhe a casa em troca e aceitou
Disse-lhe, "aqui tem as chaves"
Daqui a uns anos, quando voltar, mato o próximo presidente até deixarmos de ter presidentes
Podíamos formar uma ordem maçónica para perpetuar essas mortes
Aos poucos, teriam de mudar a constituição
Porque o que mais me incomoda, é o nome "presidente"
Vou propor-lhes "coordenador geral"
(para um figurante)
Claro que vamos manter contacto
Vou escrever-vos cartas, à mão, e posso mostrar-vos a minha filha pelo computador
Comprei uma câmara
Escrevi uma pequena carta para todos lerem agora
Podem lê-la para vocês, façam-na passar
(a Amiga lê, depois o Homem 1, etc....)

Crianças
Nós não sabemos ler

Mãe
Então, se não sabem, vou resumir-vos tudo
No início do espectáculo uma das primeiras coisas que disse foi que as pessoas são uma merda
e que não vos querem bem nenhum, nem os vossos pais vos querem bem
Acreditar o contrário é ser idiota
Deus deu-nos este paradoxo:
se queremos sobreviver fisicamente, temos de estar juntos
se queremos sobreviver psicologicamente, temos de nos manter afastados
Podemos andar a fingir que este paradoxo não existe mas na realidade eu não vos vou querer bem nenhum, nem vocês a mim
Somos egoístas por natureza e o capitalismo percebeu isso e começou a promover essa lógica bem cedo, entendem?
Porque é que as pessoas andam por aí a separar-se?
Porque cuidam do seu prazer egotista
As revoluções libertárias da década de 60 foram instigadas pelo capitalismo que resumiu o discurso do capitalismo ao seguinte:
"tornem tudo substituível, mesmo as pessoas com quem partilham as vossas vidas"
Mais uma vez, acreditar o contrário é ser idiota
Miúdos, pensem dois minutos: se ficarem com todos, não ficarão com ninguém e como não haverá partilha efectiva e constante terão de comprar individualmente as coisas mais básicas
Um exemplo: se os vossos pais não fossem divorciados, vocês teriam uma só televisão com aquela bonecada de merda. Agora, eles têm cada um a sua. E assim sucessivamente
Quem lucra é a Samsung, percebem?
Aquilo que acabo de vos dizer não é nenhuma crítica sócio-política
Este espectáculo não é sobre consumo ou sobre o facto de querermos matar o presidente ou querermos ir para Oslo
Este espectáculo é sobre o amor que nunca irão conhecer
Mas não fiquem tristes, nem levem isso a peito, porque não é nada pessoal
Disse-vos isso só para se manterem informados
Agora, comam bolo

Homem 1
O bolo está uma delícia

Amiga
É só isto?

Mãe
É
Fuck them all

Oslo - fuck them all and everything will be wonderful

Nunca tinha ido ao teatro a sério. Já tinha visto algumas peças de teatro mas todas inseridas no âmbito escolar - a última foi "O Império" no Cine-Teatro Garrett, na Póvoa de Varzim. À primeira vista a temática pode parecer desinteressante para uma data de miúdos desinteressados - era uma espécie de comparação/confronto entre a "Mensagem" de Fernando Pessoa e "Os Lusíadas" de Luís de Camões. Apesar de à primeira vista a maioria das pessoas antever uma seca, acredito que a peça tenha captado a atenção de 90% da plateia (e os outros 10% não dão atenção a nada desta vida). E acredito que tenha captado a atenção de tanta gente porque foi uma peça muito inteligente, muito actual, com bons actores e que tinha muita comédia à mistura.
Já à muito tempo que queria ir ao teatro, mas ainda não tinha visto nada capaz de me cativar o suficiente. Recentemente uma peça de teatro captou toda a minha atenção com um título pouco comum. Estava inserida na programação do Festival Gil Vicente que, para quem não sabe, é um festival vimaranense que se realiza sem interrupções desde 1987 e tem como propósito levar ao palco peças de teatro contemporâneo português, bem como promover a experiência, a discussão e o pensamento. Este ano realizou-se entre 4 e 13 de Junho. A programação contou com seis diferentes espectáculos, que se dividiram entre o pequeno e o grande auditório do CCVF e a Black Box da PAC: I don't belong here, Orlando, Círculo de Transformação em Espelho, Fausta, Oslo - fuck them all and everything will be wonderful António e Cleópatra. A par dos espectáculos, ainda houve algumas actividades paralelas como uma Masterclass com Mickäel de Oliveira ou momentos de conversa com os autores das peças. Para aceder a todos estes espectáculos e actividades, bastava fazer a assinatura do festival pelo preço de 25€, o que me parece um preço muito acessível pois a assinatura ainda dava direito a estacionamento gratuito em dias de espectáculo e direito a uma visita às exposições patentes no Centro Internacional das Artes José de Guimarães. Numa altura em que tudo tende a ficar cada vez mais caro e a cultura cada vez mais inacessível, o Festival Gil Vicente revela-se uma óptima iniciativa que mostra que a cultura está de perfeita saúde e o teatro tem imenso ainda para nos oferecer. Os espectáculos, individualmente, tinham o custo de 7,5€ (eu paguei 5€ porque tive desconto com o cartão jovem, mas o cartão quadrilátero cultural dá um desconto de 50%).

Depois de tanto suspense, vou dizer-vos qual foi o espectáculo eleito. Decidi ver Oslo - fuck them all and everything will be wonderful. Como eu disse, o título não é nada comum. E eu gostava muito, muitíssimo fazer uma crítica minuciosa da peça que fui ver, mas na verdade eu não o sei fazer porque de teatro percebo muito pouco. Contudo sei dizer se gostei ou não. É exactamente isso que vou fazer porque pouco mais consigo.
Em equipa que ganha não se mexe e a equipa formada pelo encenador Nuno M Cardoso e o dramaturgo Mickäel de Oliveira deve ter ganho com Boris Yeltsin, o seu primeiro projecto conjunto, para apostar em Oslo. De facto, este Oslo é uma reescrita de O Que é Teu Entregou aos Mortais, texto com que Mickäel venceu o prémio Nova Dramaturgia Maria Matos 2006. Mais uma vez, em equipa que ganha não se mexe. A interpretação fica a cargo de 3 actores: Albano Jerónimo, Mónica Calle e Raquel Castro, que afinal são 6 personagens. Mónica Calle é a mãe, Raquel Castro é uma amiga da família que tem uma relação um quanto conturbada e enigmática com a mãe, Albano Jerónimo desdobra-se em quatro homens diferentes que visitam a casa da mãe: é um médico, depois já é um ex-namorado da filha e um "profissional", ambos contratados para satisfazer as necessidades sexuais da filha, e sem esquecer que ainda é um padre. Mas eu disse que são seis personagens. Na verdade nunca vemos a sexta personagem, no entanto esta não fica esquecida ou ignorada e trespassa todo o espectáculo - a filha doente, da qual não conhecemos bem o quadro clínico mas que supomos estar muito doente e acamada. É uma peça sobre a relação entre a mãe e a filha, que vivem numa casa visitada por todas as outras personagens que têm como objectivo satisfazer as vontades daqueles que a habitam.
O tom é estabelecido desde o início quando a mãe declara que "O mundo é uma merda e ninguém quer saber do teu bem estar". Nas palavras do próprio Mickäel, "o espectáculo na verdade é sobre ausência, sobre perda, e usa muito a palavra cinismo". Confirmo. Confirmo mais das declarações de Mickäel: "deixou de ter um pathos trágico e passou para um pathos cómico e grotesco". Apesar do ambiente denso e pesado da peça, sem dúvida que pelo meio há espaço para umas boas gargalhadas.
O texto é exímio e inteligente e apetece guardar tudo o que é dito porque é também bonito. E porquê Oslo? Foi lá que Mickäel e Nuno estavam quando decidiram o que iam fazer ao texto, mas não só. Oslo é a representação do paraíso, para onde a mãe quer ir e levar a filha.

Oslo fez-me querer voltar a ir ao teatro, e fez com que me arrependesse de não ir ao teatro mais vezes. Acho que é uma forma de arte tão pura e tão crua como são poucas - ou nenhuma. Uma peça de teatro nunca é igual - por mais que os actores, o cenário, as luzes e a música sejam inalterados. Nunca é igual. Amanhã não vai ser igual a hoje. Acho que talvez seja isso que mais me fascina. Cada espectáculo de teatro é único - é assim mesmo, como está diante dos nossos olhos, sem qualquer tipo de filtros ou edição.

E é só isto?
É
Fuck them all

Foto: www.porto24.pt
Foto: Almanaque
www.sol.pt
Foto: Almanaque

Não, não é o São João


O título deste post é a minha resposta quando alguém me pergunta se o feriado em Guimarães no dia 24 de Junho é por causa do São João. Não, não é o São João. É a comemoração da independência de Portugal, consequência da vitória de D. Afonso Henriques na Batalha de São Mamede que ocorreu precisamente na minha cidade maravilhosa que é Guimarães. Em Guimarães comemora-se o primeiro dia de Portugal. Em Guimarães comemora-se a nossa história, que não é exclusivamente vimaranense. É nossa, de Guimarães, mas também é do país, é parte integrante e inseparável da cultura portuguesa.
Apesar de não ser exclusivamente vimaranense, só em Guimarães é que é feriado. No Porto e em Braga, entre outras cidades, também é feriado mas por causa do São João. Eu não quero diminuir o São João porque não tenho nada contra ele, só acho que o dia 24 de Junho deve ser declarado feriado nacional. Sempre me fez confusão não ser. No entanto, é feriado nacional no 1 de Dezembro e no 10 de Junho. No primeiro comemora-se a Restauração da Independência, no segundo é dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas. Mas é provável que estes feriados não existissem se não fosse pelo 24 de Junho, pois os espanhóis não quereriam tirar-nos a independência em 1640 e Camões era espanhol.
Ao longo dos anos não vi ninguém da cena política vimaranense reivindicar o 24 de Junho como feriado nacional. Não vi, mas gostava de ver. 
Mesmo que não seja feriado nacional, não se esqueçam de que foi aqui, na linda cidade de Guimarães, que nasceu Portugal a 24 de Junho de 1128. E não há orgulho maior do que este!

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Carta aberta a Rui Vitória

Querido Rui Vitória,
apesar de já se especular a tua saída para o Benfica à uns dias, eu acreditava que tu ias continuar por cá. Gostei de ti desde que vieste para o Vitória, sempre achei que tinhas muita garra, qualidade e classe. Não me enganei. Revelaste-te uma mais-valia! Enquanto cá estiveste passamos por um período conturbado e de contenção financeira. Não tínhamos possibilidades financeiras de ir buscar jogadores já feitos. Por isso a opção era usar a "prata da casa".
Alguns não acreditavam em ti nem neste projecto. Alguns achavam que íamos voltar ao inferno da segunda liga ou que íamos apenas lutar para não chegar lá. Alguns achavam que o Vitória não ia ter qualidade de jogo absolutamente nenhuma. Eu, positiva por natureza, acreditei em ti e acreditei que podíamos ir longe com este projecto. E fomos, conquistámos contigo a primeira e tão almejada Taça de Portugal.
Ainda hoje não encontro palavras capazes de descrever a felicidade que vivi nesse dia e que acredito ser comum a tantos outros vitorianos. Contra todas as expectativas estivemos lá e contra todas as expectativas conquistámos a Taça. Foi um caminho árduo e com muitos obstáculos, mas nós fomos ultrapassando cada um deles.
No entanto, a Taça de Portugal não foi o teu único triunfo. Foi o reconhecimento merecido pelo teu trabalho e pelo trabalho dos nossos incansáveis jogadores e como estava a dizer, ganhaste mais do que a Taça. Ganhaste a nossa admiração e o nosso respeito. Conquistaste-nos e passaste a ser um de nós. Como? Quando estávamos sem esperanças e receosos do que poderia acontecer no futuro mostraste-nos que a situação pode sempre ser revertida. Não vou ser irrealista e dizer que estiveste sempre bem e sem falhas. Tiveste falhas, fizeste experiências que correram pessimamente e houve algumas semanas conturbadas na tua relação com os adeptos. Mas continuando no mesmo registo realista, tenho de dizer que ninguém é perfeito e todos os treinadores erram uma vez por outra.
Iniciaste no Vitória um projecto que me encheu de orgulho. Enquanto todos iam gastar balúrdios em jogadores estrangeiros, experientes e já formados nós íamos buscar o que tínhamos. Abraçamos este projecto mais por obrigação do que por escolha, verdade seja dita. No entanto o projecto só fez sentido e teve sucesso em grande parte porque conseguias ver o melhor dos jogadores e fazer com que eles dessem o melhor de si pela camisola, nem que isso incluísse comer relva. Foste tu que deste asas a este projecto para que se tornasse cada vez mais sólido. Lembras-te de quando muitos já nos faziam o funeral? Foram tantos a escrever-nos a certidão de óbito que eu acabei por lhes perder a conta, mas eles estavam todos enganados (como estão quase sempre) e tu foste uma peça importante para lhes mostrar que estamos aqui, bem vivos e inteiros, com algumas cicatrizes e dificuldades mas que estamos tão ou mais vivos do que os outros porque estas gentes não deixam o Vitória morrer em tempo algum! Mostras-te a todos os que por aí andam de nariz empinado e peito feito que não precisas de descer de nível para lhes responder e ensinar como se faz e como se está. Para além da tua inegável capacidade e qualidade como treinador, sempre gostei de te ouvir, sempre tiveste tanta classe na forma como dizias as coisas que fazias os outros corarem de vergonha (ou então não que há tantos por aí sem vergonha na cara).
Com tudo isto que te estou a dizer não quero que me interpretes mal. O Vitória é muito maior do que tu ou qualquer outro treinador. Desculpa a frieza da declaração mas quem diz a verdade não merece castigo. Eu tenho a certeza que já sabias isso antes de te dizer porque já conheces o símbolo do Rei, já sabes que para nós o importante é o clube e não os jogadores ou o treinador ou quem quer que seja.
Por fim e se não estiveres cansado do que já te disse, deixa-me agradecer-te por teres escrito a ouro muitas páginas da nossa história, agradecer-te por teres feito tanto com tão pouco, agradecer-te por teres trazido tantos e tão bons jogadores que podiam passar despercebidos. Todos nós nos iremos sempre lembrar do Vitória do Vitória e tu serás sempre bem-vindo ao castelo do Rei. Há poucos como tu! Obrigada por teres dado tanto de ti, eu sei que também levas imenso de nós contigo.
"Acabámos por ganhar. Foi tocar no céu. Indiscritível." 

terça-feira, 9 de junho de 2015

Karma Police



A visão de uma estudante (não) preguiçosa

Tenho um grave problema com o ensino! Vocês até podem achar que só digo isto porque sou estudante e o que quero é ver-me livre de testes e exames e afins. Não é verdade. Digo-o porque é o que acho verdadeiramente e pretendo explicar-vos porquê para que não fiquem com a opinião de que sou uma estudante preguiçosa (não que seja mentira mas não é relevante para o caso!).
O motivo maior para achar que o ensino está completamente ao contrário é o método de avaliação. Não considero que seja justo a minha aprendizagem ser avaliada num teste de noventa minutos. Conhecem os famosos "auxiliares de memória"? Vamos supor que um estudante consegue utilizar as cábulas de forma contínua e correcta e o outro não gosta, não consegue nem sequer acha justo que o faça. O primeiro estudante está recheado de dezassetes e dezoitos e outro, coitado, tem notas que rondam os catorze. O primeiro estudante tem uma média espectacular e até consegue entrar no curso que queria e na universidade que queria. O segundo não consegue entrar em nenhum curso que queria e perde mais um ano da sua vida a fazer melhorias ou, na pior das hipóteses, tem de começar a trabalhar e desistir do seu sonho de tirar um curso. Dizem-me vocês que há outros parâmetros na avaliação, que o comportamento na sala de aula também conta, a assiduidade e a pontualidade e coisas dessas. Dizem muito bem, há outros parâmetros na avaliação. No entanto, o peso dos testes e dos exames na avaliação final é enorme! Para além de que há pessoas que até percebem e conhecem a matéria só que não têm facilidade em expressar-se. Enquanto discutia este assunto com um professor meu à umas semanas ele chamou-me à atenção de um ponto que eu tenho de salientar aqui porque é importante. Eu não acho que o ensino devia ser completamente redefinido, não defendo que os testes e os exames sejam banidos. Não, nada disso! Eu entendo a importância e a necessidade dos testes na avaliação de um aluno, é a forma mais objectiva de o fazer e é necessário que qualquer aluno tenha bases para prosseguir os estudos. Para ingressar na universidade o aluno tem de ter pilares de conhecimento que são essenciais.
Para além disto, acho que o ensino devia valorizar outras componentes. Há imensas coisas que somos obrigados a saber e que não vão ter absolutamente nenhuma relevância no nosso futuro, pelo menos não numa base diária. E há assuntos que não são abordados e que são e serão sempre muito úteis ao longo da nossa vida. O objectivo primordial do ensino e das escolas em geral é o alcançar de bons resultados para fazer boa figura no ranking. Para além desta componente de ensinar história ou matemática, era importante que as escolas tivessem uma maior preocupação em formar homens e mulheres felizes e saudáveis, que sejam seres criativos e capazes de mudar as coisas. Era importante que fossem abordados outros temas. Era muito importante que não fosse tudo só teoria, houvesse também uma componente prática capaz de proporcionar aos estudantes experiências agradáveis e interessantes que fossem decisivas na escolha do curso superior.
Uma pessoa não se define pelas notas que tem na escola ou pela média que conseguiu obter. Há coisas que são tão ou mais fundamentais do que isso. A solidariedade, a criatividade e a simpatia são também muito importantes e ninguém lhes dá crédito nenhum. Talvez eu tenha todos os traços de personalidade necessários para exercer a profissão de médica mas não entrei em medicina porque tinha média de 17 e precisava de ter média de 18. No entanto, o meu colega entrou em medicina mas nem tem assim muita aptidão para tal nem gosta muito da profissão. Digam-me, quem acham que seria melhor médico?
Com isto não quero dizer que os exames devem ser banidos para sempre da face da terra. Não, não é essa a ideia que quero transmitir. O que pretendo dizer é que há coisas mais importantes do que as notas que obtemos ao longo do nosso percurso académico. Digo-o como estudante e como cidadã. Talvez a minha ideia possa sofrer alterações com o passar dos anos, não posso garantir que não. No entanto, neste momento gostava de ver uma reforma no ensino, uma mudança de mentalidade. Principalmente gostava de ver uma menor formatação dos estudantes. Pretendo voltar a abordar este assunto num outro post daqui a uns dias. Por agora cabe-me estudar porque os exames estão aí à porta!

sábado, 6 de junho de 2015

Esmiuçar!


Já não escrevo aqui à mais de um mês por isso só uma notícia bombástica me faz voltar! A notícia é essa mesma que estão a pensar... A inesperada transferência de Jorge Jesus para o clube de Alvalade. Talvez a notícia não seja tão inesperada assim, uma vez que vários jornais já davam conta de que isso ia acontecer. Só que eu não estava à espera que acontecesse de facto. Deve ser a primeira vez que falo de outros clubes aqui no blogue que não seja o meu, mas acho que desta forma não há volta a dar, é peremptório abordar este assunto que tem sido tema de abertura do telejornal desde que foi confirmado. E ele é directos, é uma retrospectiva da carreira de JJ, é tudo e mais alguma coisa. Não podia deixar passar este acontecimento em branco!
Vamos por partes...
Para Jorge Jesus ser contratado, quem lá estava antes teve de sair. Bruno de Carvalho, exactamente à sua medida, resolveu o problema (que não há problema que o homem não resolva... se o treinador precisar de um avançado, lá vai Bruno de Carvalho jogar, se precisar de guarda-redes também vai. Podia apostar que ele pode jogar nas duas posições ao mesmo tempo! Já perceberam a ideia não já?). De que forma? Muito simples, despediu Marco Silva por justa causa. Pessoalmente considero que Marco Silva fez um excelente trabalho no Sporting esta época, e acho também que é um excelente treinador com muita qualidade e muita postura. Conseguiu fazer o que nenhum treinador tinha conseguido nos 7 anos anteriores... ganhar um título! Não foi o campeonato, é verdade, mas temos de ter em conta que o plantel do Sporting é mediano e apresenta uma diferença abismal quando comparado ao plantel do Benfica e do Porto. Por isso mesmo não percebi o justa causa até as causas terem sido divulgadas. Depois de saber das causas continuei sem perceber (e até me fez sentir uma certa vergonha alheia). Ora então que uma das razões foi o homem não ter usado o fato oficial no jogo dos oitavos de final da Taça de Portugal contra o Vizela! Outra das razões foi não respeitar as directrizes emanadas da SAD nas conferências de imprensa. De forma mais resumida (e para não ficar para aqui a enumerar as causas porque não usar o fato já é mais do que motivo de despedimento), o relatório podia dizer o seguinte "Uma vez que Marco Silva não fez tudo aquilo que o presidente queria é despedido por justa causa". Era desnecessário acrescentar o que quer que fosse! Nesta história toda o meu respeito vai todo para Marco Silva que foi tratado como lixo pelo Sporting, aliás, por Bruno de Carvalho e uns quantos que por lá se passeiam. Para mim, Marco Silva é um vencedor, um jovem treinador cheio de garra e fibra que não se intimidou quando tinha tudo e todos contra si e podia contar apenas com os seus jogadores. A conquista da Taça de Portugal e o acesso (através de pré-eliminatória) à Liga dos Campeões são expressivos o suficiente do talento que este treinador tem.
Apesar de inesperada, como já disse, é fácil perceber porque é que Jorge Jesus quis trocar a Luz por Alvalade. O dinheiro e o desafio. Farto de ouvir que não era ele que ganhava títulos mas sim o Benfica decide pegar numa equipa que não ganha títulos para provar que afinal o mérito é dele e de mais ninguém. O problema pode estar precisamente aí. E no facto de Bruno de Carvalho ver Jorge Jesus como uma solução a curto prazo, uma solução rápida para chegar ao título (e só assim se explica o salário que JJ vai auferir e que é disparatado para a conjuntura actual do futebol português). O que eu acho é que ambos estão errados! Jesus ganha títulos por mérito próprio, mas não só por mérito próprio como pensa. A estrutura do Benfica permite que ganhe títulos. Se pensarmos bem o Benfica é o clube com uma estrutura sólida e é provavelmente o clube mais favorável para se treinar em Portugal. Até agora JJ teve tudo, inclusive o "colinho" das arbitragens e da comunicação social. Tinha também o poder de ir buscar jogadores já feitos e o poder de decidir se queria, ou não, apostar em jogadores da formação. No Sporting, Jesus não tem nada disso. Tem um clube que tem passado dificuldades a vários níveis e que apesar de não ser desfavorecido pelas arbitragens nem estar na lista negra da comunicação social não é o clube do regime. Tem uma grande tradição de aposta nos jogadores da formação - e já percebemos que Jesus não tem esse hábito, prefere jogadores com experiência e já formados, portanto ou cede JJ ou cede Bruno de Carvalho neste aspecto. Bruno de Carvalho está errado porque não é por mudar de treinador que vai ganhar o título, caso contrário o Mourinho ganhava a Liga dos Campeões ao comando do Penafiel. Não há um caminho para o sucesso e se houvesse acredito que não seria contratar um treinador para ganhar 6 milhões de euros por época. O caminho para o sucesso constrói-se, não se compra. Passo a passo chega-se lá, devagar e com muita paciência - virtude que o presidente leonino não tem.
Apesar dos problemas que já enumerei ainda não falei daquele que me parece ser o maior. A relação entre Jorge Jesus e Bruno de Carvalho. Não consigo perceber como é que estes dois super-egos se vão entender. Antes de mais começo por ter pena dos jogadores do Sporting na próxima época - de um lado têm o treinador que acha que é engraçado tratar mal os jogadores uma vez por outra ou as vezes que lhe apetecer, do outro lado têm um presidente que se julga superior ao treinador no banco. Uma coisa eles têm em comum - adoram ser o centro das atenções e pensam que o mérito da vitória é exclusivamente seu e a culpa da derrota é sempre dos outros. Agora pergunto-me: como é que vão disputar os holofotes? E quando alguma coisa correr mal vão assumir a culpa ou atirar a culpa um ao outro? E quando ganharem vão dividir o mérito? Não estou a ver bem como as coisas vão funcionar porque no Sporting da actualidade quem não se ajoelhar perante o presidente é despedido e Jorge Jesus não se ajoelha perante ninguém (aliás, já se ajoelhou mas prefiro não entrar por este caminho para não ferir susceptibilidades).
Só para terminar urge-me a necessidade de falar de outro problema de igual importância. O Sporting é, unanimemente o clube dos eruditos, das tias de Cascais e dos viscondes de Lisboa e agora têm um treinador que masca chicla de boca aberta e que diz "muita bom" e "padradas" entre outras pérolas da língua portuguesa. Um treinador que não sabe falar muito bem português. Um treinador que tem uma péssima postura e que não sabe estar. Este sim, é o verdadeiro motivo pelo qual Jorge Jesus não vai ter sucesso no Sporting!
No meio de tudo isto só tenho pena se Rui Vitória sair para o Benfica! Entretanto vou só fazer pipocas e guardar o melhor lugar para assistir ao resto do filme porque tenho a estranha sensação de que o melhor ainda está por vir!