terça-feira, 23 de agosto de 2016

(In)Eficácia

Foto: Vitória SC
Defrontar o Marítimo nunca é tarefa fácil, seja no D. Afonso Henriques ou na Madeira. O longo histórico de confrontos de setenta jogos oficiais é equilibrado, com o Vitória a liderar com uma vantagem tímida de apenas mais quatro vitórias. Vantagem essa que tem diminuído nos últimos anos. O último empate, a um golo, foi na primeira volta da época 2012/2013, na cidade onde nasceu Portugal. Desde esse jogo e até ao passado sábado tínhamos disputado, entre o continente e a ilha, um total de sete jogos - todos eles para o campeonato - e os números não nos eram nada favoráveis: o Marítimo somava 5 vitórias e 14 golos. Para além disso, e no topo destes números claramente negativos, o Vitória já não saía com os três pontos dos Barreiros há seis anos; a última vez foi na já longínqua época de 2009/2010 com o único golo da partida a ser apontado por Sereno e com um plantel que contava com Nilson, Desmarets, Nuno Assis, Flávio Meireles, entre outros jogadores que muitos vitorianos ainda recordam com saudade e carinho (outros nem tanto, mas desses não reza a história).

Conseguir a primeira vitória da época nos Barreiros era de extrema importância. Não só pela três pontos em si, que são sempre fundamentais e devem sempre ser procurados, mas também porque deixamos escapar os primeiros três pontos em casa na primeira jornada para os rivais e uma vitória podia aliviar alguma pressão que pudesse existir, bem como fomentar confiança na equipa e também na massa associativa, pela dificuldade que o Vitória tem em sair vitorioso daquele estádio e, enfim, porque ninguém esqueceu ainda os resultados pesados das últimas duas temporadas. Apesar de eu não ter ficado, de todo, desagradada com a primeira exibição oficial da temporada não fiquei nada convencida e sabia que a jogar (e a falhar) daquela forma não podíamos ambicionar por resultados extraordinários. A alteração no onze inicial foi apenas uma e foi natural: Ricardo Valente, apesar de se esforçar não conseguiu ter um desempenho positivo no primeiro jogo e não foi opção para o segundo; Rafinha, que substituiu com competência Valente frente ao Sporting de Braga, foi o escolhido para completar o onze inicial. Não foi preciso esperar nem meia hora para perceber que aqueles três pontos eram nossos. Rafinha, com assistência de Marega, inaugurou o marcador ao minuto dezanove e perto da meia hora de jogo foi a vez de Marega, assistido por Tiquinho Soares, fazer o gosto ao pé. Eu, que não gosto de anunciar a vitória antes do apito final, não duvidei de que o Vitória ia segurar o resultado: os maritimistas estavam sem grandes ideias e algo à toa mas, mais do que isso, o Vitória estava firme, soube impor-se desde o início e estava determinado a dominar e a fazer finca-pé se fosse necessário. Por isso não só acreditei que o resultado se manteria, como acreditei que essa vantagem ia ser dilatada e bem mais expressiva. Não foi, o marcador estacou ao minuto trinta mas as oportunidades sucederam-se ao longo do resto da partida com Gottardi a evitar males maiores para os madeirenses. O desempenho dos nossos branquinhos foi uma mescla de eficácia com ineficácia. De facto houve eficácia e ganhamos com um resultado confortável, no entanto se não fosse pela ineficácia podíamos ter ganho o jogo por uma vantagem absurda e vingar assim os últimos resultados.

Tal como um jogo menos conseguido e um mau resultado não dita uma época, um bom jogo e um resultado seguro também não o faz. Uma boa época é feita de um trabalho contínuo. No entanto não podia deixar de referir as boas indicações que a equipa deixou no sábado passado. Ao contrário do que vimos na primeira jornada, pareceu-me ser um Vitória mais confiável e mais capaz de caminhar no sentido dos objectivos pelos quais todos nós almejamos há já algumas épocas. Com alguns ajustes (afinal o mercado ainda está a aberto) acredito que este possa ser o momento de um Vitória mais competitivo e um Vitória que quer voltar às raízes, de identidade e personalidade difícil e bem vincada, decidido a conquistar aquilo pelo que deve lutar sempre. Não acredito que seja ainda o momento que realmente queremos, o momento de um Vitória monstruoso, o momento de abanar a liga com estrondo, de desafiar as probabilidades. Espero que seja finalmente o primeiro passo dado nesse sentido. Espero que finalmente as desculpas sejam arrumadas e a aposta na vertente desportiva seja planeada e feita de forma sustentável. Há quem diga que de vez em quando tem de se dar um passo para trás para depois se dar dois passos para a frente. Infelizmente o Vitória já deu mais do que um passo para trás e quanto a isso já nada há a fazer. O que há a fazer é alterar o panorama e para o fazer é preciso definir estrategicamente os objectivos e mais importante do que isso é preciso dar passos seguros e conscientes nesse sentido. O caminho ainda é muito longo e não vai ficar mais fácil.

O próximo adversário é o Paços de Ferreira e em trinta e oito jogos de história, há onze vitórias para cada lado mas em nossa casa o cenário é mais preocupante: já não os vencemos desde a época 2011/2012 (não sei se já repararam no padrão: tínhamos uma margem confortável de vitórias sobre um número considerável de equipas da primeira liga, mas essa tendência tem sido contrariada nos últimos anos em que o Vitória tem estado desportivamente mais acomodado e menos efusivo - salvo uma ou outra excepção, como a incrível vitória na Taça de Portugal mas em termos de campeonato não temos crescido) e somam seis vitórias no nosso castelo, enquanto que nós conseguimos manter os três pontos em casa apenas por quatro vezes. Mas os números não jogam e a história fica fora das quatro linhas. Se conseguimos contrariar as estatísticas na Madeira não podemos duvidar de que o podemos fazer na nossa casa. Dentro de campo são onze contra onze mas nós temos ao peito o primeiro Rei de Portugal e subentendida em cada camisola tem de estar a obrigação de o honrar, de honrar aquele símbolo, a nossa história e cada um de nós sentados na bancada e todos os que estão espalhados pelo mundo inteiro mas que nunca se esquecem de onde vão e de um amor tão grande. Tem de ser assim na próxima sexta e tem de ser assim sempre. É esse o meu Vitória e é esse Vitória que tem tudo, absolutamente tudo, para crescer.

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