quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Uma vitória importante num período difícil

Foto: Vitória SC
A equipa vitoriana foi ao estádio do Estoril conquistar a 4ª vitória do campeonato. À 8ª jornada estamos na quinta posição da tabela classificativa e a três pontos do terceiro lugar. Um jogo bem conseguido do ponto de vista colectivo que provou que temos uma equipa com qualidade e personalidade que pode almejar, se souber ser consistente na qualidade e se for bem gerida a todos os níveis (principalmente em Janeiro!), a uma época de alto nível e com o bonito desenlace que nos tem faltado nos últimos anos. Apesar das estatísticas indicarem que foi o Estoril quem teve mais posse de bola, a verdade é que foi o Vitória quem fez melhor uso da mesma e que controlou o jogo desde o apito inicial. Foram os representantes do Rei que entraram com uma grande ambição que os levou a procurar o golo e criar muitas oportunidades. E, sob o mote "Marca golo na luta contra o cancro" no âmbito de uma excelente campanha dos estorilistas, foi o Vitória a facturar por duas vezes e a deixar o marcador em 0-2. Não fosse a ineficácia dos branquinhos (que não é de hoje) e estaríamos, certamente, a falar de um resultado mais dilatado e mais expressivo. O problema não se ficou só pela ineficácia. A arbitragem deixou muito a desejar, ou não fosse Carlos Xistra o dono do apito. Se me parece que esteve certo ao assinalar os foras-de-jogo e assim não validar os golos, esteve muito mal ao ignorar as duas grandes penalidades que ficaram por marcar e eram claras e a ser demasiado interventivo e a não deixar o jogo fluir naturalmente. Uma arbitragem à imagem do árbitro!

Foi uma vitória importante num período da época que não se afigura fácil. Na verdade não há jogos fáceis, portanto também não há etapas fáceis, seja no campeonato ou em qualquer outra competição e o jogo com o Santa Iria deixou-nos cientes disso. No entanto o Vitória está num período importante longe de casa e do estádio do Rei. O último jogo do Vitória em casa foi o empate épico frente ao Sporting no primeiro dia de Outubro. Desde então defrontamos o Santa Iria para a Taça de Portugal, no estádio do Sacavenense, e agora o Estoril, no Antónia Coimbra de Mota. Segue-se o Rio Ave, no próximo Domingo, no Estádio dos Arcos. Entretanto passa-se um mês até voltarmos a casa. No dia 4 de Novembro (sexta-feira) recebemos o Nacional. Voltamos a ter uma série de dois jogos fora de portas. Primeiro para a Taça de Portugal, no Bessa, num jogo em que só pode ter um desfecho: a vitória do Vitória. Voltamos então, na semana seguinte, ao campeonato e o Vitória desloca-se ao Estádio João Cardoso para disputar três pontos com o Tondela. Regressamos a casa no primeiro domingo de Dezembro. Isto significa que em cerca de dois meses os conquistadores vão disputar apenas três jogos no belíssimo D. Afonso Henriques. O Vitória tem um registo muito positivo em jogos fora de casa esta época com quatro vitórias em cinco jogos. Portanto, apesar de não ser um período fácil, acredito que o balanço seja positivo. E, uma vez que estamos a falar do Vitória e não de um clube banal, jogar fora de casa não é necessariamente jogar longe das suas gentes e de todas as vozes ensurdecedoras que, com os cachecóis no ar e com o símbolo perto do coração, compõem um décimo segundo jogador que tantas vezes é o melhor em campo. 

Quanto ao próximo desafio, em Vila do Conde, é sem dúvida um desafio que tem de ser trabalhado e preparado seriamente. No histórico de confrontos o Vitória apresenta uma vantagem clara: ganhou mais de metade dos quarenta e quatro jogos disputados a contar para o campeonato na casa de ambas as equipas e perdeu apenas nove. Só que a conversa muda de rumo se analisarmos apenas os confrontos no Estádio dos Arcos: em vinte e dois jogos, o Vitória conseguiu trazer os três pontos para Guimarães por apenas sete vezes e perdeu oito jogos. Realmente não é um reduto fácil e o Rio Ave costuma impor dificuldades enquanto anfitrião. O último jogo em Vila do Conde resultou na derrota vitoriana, com o resultado de 2-0. Mas não é o passado que entra em campo e, com a atitude certa, humildade e muito trabalho, é possível contrariar a história!

Nos restantes escalões foi um fim-de-semana que, apesar de haver um resultado positivo, deixou a desejar. Os juvenis não vacilaram frente aos vizinhos do Moreirense e marcaram três golos sem resposta. Os júniores foram à casa do rival conseguir um empate num jogo em que o menos importante me parece ser o resultado. Durante o jogo o guarda-redes vitoriano e internacional sub-19, Daniel Figueira, magoou-se na cervical durante o jogo. Isto é normal no futebol. O que não é normal é que um jogador tenha de esperar meia hora (!) para ser assistido pelos Bombeiros. Isto demonstra um profundo amadorismo e descuido por parte da estrutura do Sporting de Braga. Podia ser qualquer jogador e podia ser muito mais grave e um tempo de espera de meia hora pode fazer toda a diferença. É uma situação que tem de ser averiguada. Não se pode admitir que isto aconteça! A equipa B, por sua vez, continua numa má fase e numa série de derrotas demasiado longa - o jogo frente ao Cova da Piedade é a quinta derrota consecutiva. A equipa B encontra-se agora com apenas dez pontos e na zona de despromoção. É preciso encontrar o problema e as soluções. Ainda há imensos jogos pela frente mas é importante não desvalorizar a situação. O Vitória não se faz só de futebol e a equipa de basquetebol felizmente não nos faz esquecer disso: venceram o Sampaense por 77-90. Estes nossos conquistadores estreiam-se em casa à quarta jornada no próximo sábado pelas quinze horas. É hora de irmos ao pavilhão mostrar-lhes que estamos com eles!

P.S.: O Estoril teve a excelente iniciativa de dedicar este mês à luta contra o cancro e portanto vestiu-se de cor-de-rosa e em campo, com cada jogador, entrou uma mulher que conseguiu vencer este flagelo que afecta tantas pessoas. Esta iniciativa incluía conceder a entrada gratuita a todos os adeptos que se vestissem da cor referida e doar 250€ por cada golo marcado. No entanto estavam menos de dois mil adeptos no estádio. E isto não é uma crítica. É só um facto. E o facto é que os estádios portugueses estão cada vez mais vazios. As razões são muitas. No entanto entristece-me. O futebol merece mais e é muito mais bonito com estádios cheios!

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Taça dos sonhos

Foto: Grupo Santiago
A Taça de Portugal é uma competição especial. É, efectivamente, a Taça dos Sonhos. É a competição que proporciona oportunidades únicas e jogos ímpares. O jogo que o Vitória disputou no último Domingo, frente ao Santa Iria que compete nas Distritais de Lisboa, foi um exemplo disso mesmo. De um lado estavam jogadores profissionais que envergam um dos símbolos mais importantes e míticos do futebol português e do outro lado estava uma equipa amadora, composta por uma miríade de profissionais de outras áreas (o golo do Santa Iria foi apontado por Flecha, um maquinista) que decidem utilizar o seu tempo livre para jogar futebol. São realidades completamente distintas aos mais diversos níveis e não tenho dúvidas de que só o facto de disputar um jogo com o Vitória e com os jogadores que vêem jogar ao mais alto nível já foi, de certa forma, uma vitória para estes jogadores. Apesar de serem realidades distintas, a verdade é que estes jogos não são fáceis. Principalmente por duas razões: as equipas teoricamente superiores facilmente caem no erro de ser condescendentes e, consciente ou inconscientemente, diminuem o adversário e as equipas que são de escalões mais baixos estão sempre tremendamente motivadas, os jogadores querem mostrar serviço e sabem que jogar contra um clube da primeira divisão, principalmente clubes com mais prestígio, é um óptimo palco e pode traduzir-se numa oportunidade de dar um passo importante na carreira. Por isso é que eu não acredito em sorteios fáceis e muito menos acredito em jogos fáceis. A Taça de Portugal é fértil em mostrar-nos isso e há quase sempre surpresas, umas mais esperadas do que outras. Apesar de essas surpresas já me terem deixado triste, por exemplo na época passada em que o Vitória foi eliminados pelo Penafiel da II Divisão, acho que são estas surpresas que dão um encanto sem igual a esta competição.

O Vitória tem uma história bonita na Taça de Portugal e é uma competição, tal como todas as competições em que o Vitória se envolve, em que a ambição não deve ter limites. Se participamos então tem de ser para ganhar. Menos do que isso não pode, nem deve, satisfazer-nos. O discurso do presidente Júlio Mendes, que me parece estar em harmonia com o discurso de Pedro Martins, revela essa ambição: não só a ambição de chegar à final mas também a ambição de vencer. É essa ambição que, enquadrada num plano de acção condizente, deve vigorar no Vitória - não só para a Taça de Portugal, mas sim para todas as competições incluindo o campeonato. Não me canso de dizer que o lugar do Vitória é no cume do futebol português. A nossa ambição tem de se ajustar à nossa história, dimensão, paixão e amor.

Infelizmente não tive possibilidade de assistir ao último jogo, frente ao Santa Iria, portanto vou abster-me de comentários sobre o mesmo. No entanto, e pelo que li e vi posteriormente, acho que este jogo foi essencialmente uma aprendizagem. O melhor foi, obviamente, garantir a passagem à 4ª eliminatória da competição e saber que os nossos objectivos ainda estão ao nosso alcance. Não foi uma vitória fácil. Foi uma vitória sofrida e um jogo disputado até ao final. As mudanças, relativamente à equipa do épico jogo frente ao Sporting foram muitas: Pedro Martins decidiu manter apenas dois jogadores e no total foram seis jogadores que se estrearam de Rei ao Peito em jogos oficiais. Para além destas mudanças o relvado sintético do Sacavenense com diferentes dimensões das habituais dificultaram a tarefa. Se é uma prestação, ou melhor, resultado que me agrade? Não, de facto não é um resultado seguro frente a uma equipa que joga nas Distritais mas há alguns pontos positivos para além da vitória. Este jogo provavelmente serviu para Pedro Martins perceber quais jogadores precisam de limar algumas arestas, quais estão prontos para entrar em campo, serviu para dar ritmo competitivo e oportunidades àqueles que ainda não o têm e foi a oportunidade de ver Alex regressar aos relvados depois de uma paragem ingrata e prolongada. Foi uma experiência que podia ter acabado muito, muito mal - não se podia admitir perder já - mas que acabou por ter um resultado positivo. Foi uma experiência que nos mostrou que não pode haver facilitismos, que já ninguém quer ser o bombo da festa e que, cada vez mais, os clubes são competitivos e não querem saber do statuos quo para nada dentro de campo. Isso é bom mas torna o futebol mais competitivo e mais exigente e não nos podemos esquecer disso nem por um segundo.

O mais importante é que cabe-nos desenhar o nosso futuro, a nossa jornada, o nosso processo. O tenista indiano Leander Paes em tempos disse que, para ele, a jornada é muito mais importante do que o destino porque a euforia de chegar ao destino não dura muito, complementou dizendo que a euforia de ganhar o seu primeiro Grand Slam durou doze horas e não podia comparar essas doze horas com os vinte anos de trabalho que o levaram àquele momento. Há uma verdade intrínseca nestas declarações. Realizar um objectivo é, sem dúvida nenhuma, uma sensação quase transcendente e incrivelmente boa. No entanto não dura sempre, essa sensação eventualmente desvanece-se e não há como o inverter ou impedir. Depois ficam as memórias desse momento que guardamos para sempre com muito carinho. Mas o que nos transforma, nos muda, nos faz melhores no que quer que seja e que nos torna naquilo que somos não é aquele momento isolado da vitória, da realização. É o caminho que nos conduz até esse momento. Um caminho que pode ser tortuoso, do qual nos podemos desviar por momentos, um caminho que nos leva a desafios e obstáculos e durante o qual podemos cair mais vezes do que nos parece possível mas um caminho em que nos levantamos de cada vez que nos caímos. É como na vida, se pensarem bem no assunto. Nenhum homem é recordado pela forma como morre mas pode ser recordado pela sua vida. É o processo que valoriza o destino e não o contrário. Portanto estas dificuldades são o que vamos recordar mais quando pisarmos o relvado do Jamor, quando virmos o nosso capitão e a nossa equipa subir à tribuna e levantar aquela taça tão bonita. Estive duas vezes no Jamor, em 2011 e 2013. Conheço muito bem a derrota e a vitória naquele mesmo estádio, naquela mesma competição. A derrota pesada de 2011 foi parte do processo que nos levou à vitória dois anos depois. Caímos mas soubemos levantar-nos magistralmente. E nunca o Jamor foi tão bonito como quando nos viu dar vida àquele estádio!

P.S.: Os meus parabéns à administração do Vitória pela iniciativa de abdicar da parte da receita em favor do Santa Iria. É um gesto bonito mas acima de tudo estou certa de que é um gesto com significado e importância para este clube e para os seus jogadores e, em última instância, para o futebol em Portugal. No entanto não posso deixar de sancionar os adeptos do clube de Lisboa que, apesar de comparecerem em grande número (e isso é admirável) também vão causar algumas perdas financeiras ao clube que apoiam e que certamente não tem condições para as suportar. Os adeptos devem estar presentes para suportar e elevar o clube, nunca para o prejudicar! Pelas imagens que pude ver viveu-se um ambiente extraordinário e de festa naquele estádio, com adeptos de ambos os lados a dar o exemplo do que deve ser o futebol!

terça-feira, 11 de outubro de 2016

Os guarda-redes

Foto: Vitória SC
A posição de guarda-redes é talvez a mais ingrata de todas no futebol e é, no entanto, absolutamente indispensável para o sucesso do colectivo. Se o guarda-redes falha e a equipa perde é muitas vezes ele o alvo de todas as acusações. Se o guarda-redes tem um desempenho irrepreensível e a equipa ganha são raras as vezes em que recolhe todos os louros. Posto isto quero reiterar o que disse no início da época: é talvez a única posição que não me preocupa de forma alguma nesta equipa do Vitória. Não me preocupa porque estou certa do valor e da qualidade dos nossos activos.

Douglas chegou ao Vitória no mercado de Inverno da época 2010/2011, com Manuel Machado aos comandos da equipa. Cumpre, assim, a sétima época de Rei ao peito. Não é filho da casa mas já conquistou o seu lugar na história do Vitória e no coração dos vitorianos. Afinal foi um dos jogadores que ajudou a escrever aquela que é talvez a página mais dourada e mais bonita da nossa história. Quando chegou ao Vitória era Nilson o "dono" incontestável da baliza vitoriana. Douglas mostrou que, para além da qualidade, era um homem humilde, paciente e disposto a aprender. Passaram duas épocas (ou uma época e meio, para ser mais precisa) até conquistar o lugar na baliza e nesse período somou apenas um total de sete jogos. Tornou-se na nossa muralha e esta é uma alcunha que não lhe podia assentar melhor. Revelou-se um excelente guarda-redes e um dos melhores a actuar em Portugal. Isso tornou-o na escolha natural e óbvia para a baliza depois de Nilson sair. Nas três épocas seguintes foi sempre a primeira opção e só deixava a baliza, sob a liderança de Rui Vitória, em raras excepções - e normalmente por lesão ou castigo. Na última época foi a primeira opção do primeiro treinador: Armando Evangelista apostou em Douglas, sem nenhuma surpresa. Era o mais natural. No entanto Douglas tinha um concorrente pronto a tomar as rédeas da baliza.

Era o "miúdo" Miguel Silva. Ao contrário de Douglas, que chegou ao Vitória como um guarda-redes experiente e com provas dadas, Miguel chegou ao Vitória com 17 anos, pela mão do ex-treinador de guarda-redes Luís Esteves, para reforçar os juniores em 2013/2014 e nessa época alinhou por 18 jogos nos juniores e ainda foi chamado à baliza da equipa B umá vez. Tenho a certeza de que trabalhou arduamente, mas o salto para a baliza da equipa principal não foi demorado. A qualidade era muita! Foi no final de Outubro do ano transacto, no Estádio do Bessa, que Sérgio Conceição decidiu arriscar e pôr este "miúdo" na baliza (e ainda considero esta decisão como a melhor de Sérgio Conceição no Vitória) O jogo não era fácil - era na casa de um adversário difícil e com uma rivalidade histórica. Era imperativo que estivesse à altura do desafio. E esteve! Os comentários de desconfiança que ouvi no início do jogo nas bancadas (eu estava lá) dissiparam-se e no final ouviam-se elogios ao jovem que tomou bem conta da baliza. Os elogios multiplicaram-se quando os vitorianos chegaram a casa e viram que Miguel Silva não só guardou bem a baliza como acompanhou os adeptos nos cânticos. Naturalmente os vitorianos (e tantos outros rivais) apaixonaram-se por aquele miúdo que era tão nosso e que nos representava tão bem. Era único, tal como o Vitória. Desde aí, e até ao final da época, foi sempre o escolhido de Sérgio Conceição e os adeptos de futebol desdobrabam-se em elogios. Era unânime: este miúdo tem futuro! 

Esta época Douglas voltou à baliza e ganhou a titularidade de volta. As opiniões dividiam-se: de um lado estavam os que não entendiam e queriam Miguel Silva e do outro estavam aqueles que achavam uma boa decisão. Eu confiei em Pedro Martins e acreditei que ia tomar a decisão mais benéfica para a equipa. Aliás, acredito que o faz todos os dias. É a sua função! Tinha a minha opinião, claro, mas ela era irrelevante. Era Pedro Martins quem trabalhava todos os dias com estes dois jogadores, não eu. Eu pouco ou nada sabia. Sabia uma coisa: não seríamos mal representados! Ambos os guarda-redes representam bem o nosso símbolo e a competição, se saudável como acredito que seja, só pode ser benéfica: geralmente a competição estimula e motiva os dois jogadores. Quem ganha, para além dos próprios? O Vitória.

No último jogo do Vitória, frente ao Sporting em nossa casa, Douglas cometeu erros. Eu sei, tu que estás a ler sabes e tenho a certeza absoluta de que Douglas o sabe e por isso levantou as mãos e pediu desculpa aos adeptos. Se esses erros justificam as muitas críticas gratuitas e nada construtivas que ouvi? Não, na minha opinião não. Os erros têm de ser apontados e as críticas construtivas fazem parte e são sinal de interesse e apoio também. Não podemos é ser ingratos ou injustos. Naturalmente fiquei desagradada com os golos que sofremos porque podiam perfeitamente ser evitados. Não tomo partido de ninguém - nem do Douglas nem do Miguel - nem apoio uma guerra entre ambos que com certeza não existe no balneário. Não faz sentido. Acho que podemos estar certos de que temos bons e íntegros profissionais que já deram provas da sua qualidade. Não acredito em titulares indiscutíveis e acho que a titularidade nunca pode ser um posto. A Douglas temos de estar sempre agradecidos por nos ter ajudado a levantar aquela taça tão bonita. Miguel Silva já é um excelente guarda-redes e tem muita margem de manobra para melhorar. São os dois nossos pelo que dão e pela mestria e orgulho com que ostentam o nosso símbolo. Não sei se Douglas vai continuar na baliza ou se será Miguel Silva. Como já disse não me alarma e não me preocupa. Temos é de estar conscientes de uma coisa: o Miguel também vai cometer erros. E isso é normal. Esses erros vão ser cruciais e vão torná-lo num guarda-redes ainda melhor. Os erros fazem os profissionais crescerem. O que importa saber é que ambos vão dar o seu melhor pelo Vitória, apesar dos erros. E nós, enquanto instituição, temos de aprender com os nossos erros e depois crescer com eles. Agora o que importa realmente é o próximo jogo, frente ao Santa Iria. Seja com Miguel ou Douglas na baliza deve ser o início de um caminho a culminar no Estádio do Jamor com a conquista da Taça!

P.S.: Excelente iniciativa da Direcção do Vitória em ceder material desportivo a crianças de Timor, a pedido de um adepto que fundou recentemente o Académico Vitória Club. Sou da opinião de que todas as instituições devem ter uma obrigação social. Não tenho dúvida de que estes equipamentos irão fazer muitas crianças felizes e, afinal, essa é a verdadeira finalidade do futebol. Fico muito feliz em ver o meu clube fazer parte de uma sociedade melhor e mais feliz!

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Resiliência

Quisieron enterrarnos, pero se les olvido que somos semillas.
- Provérbio mexicano
Foto: @jdiogo10
No cinema todos os momentos épicos têm uma banda sonora igualmente épica. Há momentos que o merecem. Eu acho que tenho a minha para os 20 minutos finais do jogo disputado no último sábado. Não foi aleatoriamente escolhida. Ao intervalo a inconfundível voz de David Bowie encheu o estádio com Heroes. Não pude deixar de trautear uma música que sei de cor. Nem eu nem o senhor que se senta religiosamente na fila atrás da minha todos os jogos. Com o marcador a ser claro quanto à desvantagem dos nossos branquinhos, não sei se a trauteamos porque acreditávamos que podíamos ser "heróis" e mudar o rumo dos acontecimentos que, sejamos sinceros, não estavam nada a nosso favor. Em última instância, trauteamos a música porque gostamos os dois de Bowie. Mas isso é tema para outro dia e outro lugar.

A desvantagem, que já era desanimadora ao intervalo, aumentou para uns expressivos 0-3 quando restavam apenas 20 minutos para o apito final. Dar a volta ao resultado, ou pelo menos lutar por um ponto, já parecia tarefa para super-heróis. Apesar do Vitória ter entrado melhor que o adversário, o Sporting conseguiu impor-se e dominar o jogo até ao terceiro golo. Os 20 minutos finais foram, nas palavras de Pedro Martins, "à Vitória". Marega iniciou, da linha de grande penalidade, um final de jogo tão inesperado como incrível. Fez o bis no minuto seguinte e Soares encerrou o marcador ao minuto 89. Em termos de classificação foi um acrescento de apenas um ponto mas todos sabemos que foi muito mais do que isso. Mostrou-nos que a nossa equipa tem uma qualidade tremendamente importante: resiliência. É um elemento do nosso ADN e da nossa identidade, enquanto instituição, desde o primeiro dia e é imprescindível para termos sucesso. Na área da física, resiliência é a "propriedade de um corpo recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação". Num sentido figurado, resiliência é a qualidade de persistir, por mais difíceis que sejam as adversidades e os obstáculos. É a qualidade de tentar, mesmo quando nada parece estar em conformidade com a nossa vontade. Ninguém desistiu do jogo - nem dentro das quatro linhas nem na bancada. Ninguém se silenciou, ninguém acatou, ninguém aceitou. Consciente ou inconscientemente acreditamos em nós e acreditamos que podíamos fazer muito mais. Tínhamos essa obrigação. Não podíamos baixar os braços e deitar a toalha ao chão. Superamo-nos.

Não há nenhuma certeza sobre os primórdios do futebol ou sobre como começou. Há algumas teorias, mas não há certezas. Eu também não sei mas quero acreditar que o futebol nasceu para que possamos ter a oportunidade de viver momentos assim. A comunicação social não nos chama "grandes" nem nos dá esse tratamento e percebo cada vez melhor a razão. A palavra "grande" é demasiado banal para um clube como o Vitória. Quem esteve no estádio entende as minhas palavras. Nós não somos grandes, nós somos resilientes, somos incomparáveis. Somos um fenómeno inexplicável. Desconfio que não há, e talvez nunca haja, palavras que possam descrever com exactidão o turbilhão de emoções que toma conta de mim quando estou no estádio, com o símbolo do Rei bem junto ao meu coração e a entoar cânticos em uníssono com todas aquelas pessoas que partilham este amor tão grande comigo. O futebol nasceu por causa disto. Talvez para que, um dia, pudesse haver um elemento tão unificador como este. O Vitória é inexplicável e, portanto, é incompreensível para quem não sente.

Talvez a banda sonora deste jogo não seja nenhuma música do David Bowie. A banda sonora deste jogo, e de todos os outros, somos nós. Somos nós, os que não se escondem e o que estão sempre presentes e que cantam até que a garganta doa. Nós que, com as nossas vozes, calamos jornalistas e adversários. Nós, os que nunca se calam. São as nossas vozes, unidas, que personificam o Vitória. Enquanto não desistirmos, ninguém vai desistir dentro do campo. Somos o Vitória!

Um dos momentos mais bonitos do dia foi quando o nosso campeão Manuel Mendes subiu ao relvado. O estádio juntou-se numa ovação de agradecimento (vitorianos e sportinguistas) enquanto o nosso conquistador, orgulhosamente de Rei ao peito e com a medalha de bronze na mão, percorria o estádio. O nosso herói da vida real!

O provérbio mexicano com que dou início à minha crónica enquadra-se perfeitamente na nossa história. Quiseram enterrar-nos, mas não sabiam que somos sementes. Perdi a conta ao número de vezes que já anunciaram o nosso fim, a morte de um lendário. Fizeram-no vezes sem conta. De todas essas vezes mostramos que somos sempre maiores e mais fortes. Mostramos sempre que estão errados. Acredito que o Sporting, desde os jogadores aos sportinguistas em geral, já nos tinham "enterrado". Uns antes do jogo, outros durante. Esqueceram-se que não somos comuns. Somos o Vitória e, por cada passo atrás, somos motivados a dar mais passos em frente. De cada vez que nos deram como acabados, ficamos mais fortes. Talvez sejamos indestrutíveis, não sei. Mas sei que somos sementes e de cada vez que vamos ao chão levantamo-nos ainda maiores.