quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O futebol


Há pouco a acrescentar ao que já foi dito sobre o último jogo do Vitória, no Estádio João Cardoso em Tondela. Foi um jogo muito mal conseguido. Desperdiçamos uma extraordinária oportunidade de ir para 3º lugar e continuar a lutar pelo topo da tabela. Uma derrota que não é preocupante se se souber tirar as devidas ilações. Parece-me mais pertinente reproduzir as palavras que escrevi no passado Domingo, depois de terminado o jogo e depois de fazer a viagem de regresso a Guimarães, ao invés de acrescentar qualquer outra coisa, porque hoje as palavras ainda me faltam.

Há uma semana, por volta desta hora, estávamos a chegar a Guimarães depois de uma vitória saborosa arrancada à última hora no Estádio do Bessa. Chegamos cansados mas com sorrisos estampados no rosto e fizemos questão de avisar que tínhamos chegado a casa assim que o primeiro vitoriano pôs os pés fora do comboio. Os cânticos de apoio rapidamente encheram toda a estação. O cansaço era grande, mas o orgulho era muito maior. O resultado foi fundamental mas não foi o único factor a contribuir para a nossa felicidade extrema: a viagem, o ambiente que criamos e a forma como empurramos a equipa para a vitória - já disse que não tenho duvidas que o fizemos - foi determinante para chegar a casa com um sorriso meio parvo, de quem se apaixonou (outra vez), que teimava em não sair do rosto. Estávamos contentes, e gostávamos que fosse sempre assim. Infelizmente não é. O sentimento com que fizemos a viagem de regresso, de Tondela para Guimarães, é contrastante com o(s) sentimento(s) de há uma semana. As conversas entusiasmantes de há uma semana deram lugar ao silêncio de hoje - o amor não é uma variável dependente do resultado mas gostámos de ver os nossos a fazer bem. "A que horas é o jogo para a semana?", perguntou um senhor ainda antes de deixarmos o Bessa. Rapidamente obteve uma resposta. "É às 20h15 no Domingo, mas se calhar não vai muita gente que o pessoal trabalha na Segunda". Imediatamente o senhor respondeu aquilo que também eu podia responder: "nós não somos desses". Não somos e, por isso mesmo, hoje estávamos presentes mais uma vez. Voltamos a fazer quase quatrocentos quilómetros, de tantos que já fizemos e que guardam tantas histórias, por amor. De cachecol no ar e peito feito entoávamos os cânticos de sempre, que nos acompanharam toda a vida. Fizemos a nossa equipa jogar em casa tão longe dela. Está a tornar-se um hábito. Mas hoje as coisas não correram bem, hoje deixamos o estádio tristes. Não ficamos tristes só com o mau resultado mas também com uma exibição apática que deixou muito a desejar. E, se há coisa que os vitorianos gostam para além do nosso lindo símbolo, é bom futebol. Hoje não houve disso, hoje perdemos porque merecemos perder. O que não podemos esquecer, sob pena de sermos ingratos e nos tornarmos comuns, é que a equipa que nos deixou tristes hoje foi a mesma equipa que nos deixou eufóricos há uma semana, e nas semanas anteriores - vínhamos de uma excelente série de bons resultados. Há alterações na equipa, mas é, essencialmente, a mesma equipa. Há erros a apontar, sem dúvida! E não são irrisórios. Nós, enquanto adeptos, devemos e temos de o fazer porque só depois de os identificar, analisar e corrigir podemos crescer. No entanto o que realmente importa agora é ser resilientes. O que importa agora é voltar ao estádio com o orgulho de sempre, com a unicidade de sempre e sermos o que sempre somos: o décimo segundo jogador, o único que é insubstituível. Podemos ficar em casa, no ambiente quente e confortável do sofá. Afinal é isso que faz a maioria das pessoas em Portugal. Mas não ficamos, nunca! Não somos desses.

O futebol nunca é só futebol e, por isso mesmo, permitam-me desviar do último jogo do nosso amado Vitória. O futebol é, como li ontem, uma metáfora para a vida. Ultrapassa os noventa minutos, trespassa as quatro linhas do tapete verde, vai para além das decisões dos árbitros e das decisões tomadas em gabinetes por quem manda e pode. Consegue encher-nos o coração de alegria com a mesma intensidade com que o despedaça. Todos gostamos de ver a nossa equipa marcar golos, somar pontos e subir na tabela, mas acredito que todos percebemos que o futebol não é só isso. Talvez nos apercebamos melhor disso quando nos deparamos com uma tragédia. Ontem foi um dia sombrio e triste para o futebol e nenhum resultado positivo, nenhuma goleada, nenhuma taça seria capaz de desapertar o nó que apertava com força o nosso coração. Recebemos, ao início do dia de ontem, a notícia de que um avião que transportava jogadores, equipa técnica e administração do Chapecoense, bem como vários jornalistas e a tripulação se tinha despenhado e rapidamente se percebeu que eram poucos os sobreviventes. De uma equipa de vinte e dois jogadores sobreviveram três. Entre os que não resistiram ao acidente estava Caio Júnior, antigo jogador do Vitória e actual treinador do Chapecoense, que muitos adeptos ainda recordam com carinho. "O Caio Júnior? Lembro-me, lembro-me. Era muito bom jogador", disse-me o meu tio assim que eu lhe perguntei se se lembrava de o ver jogar. Umas horas depois chegou outra má notícia: Nuno Greno, da equipa técnica do nosso Vitória B tinha sucumbido ao cancro aos 23 anos. O futebol está de luto. 

Em tempos difíceis as cores não interessam, as fronteiras não existem e somos todos iguais no sofrimento. Conseguimos ser mais humanos, parece-me. Que estas tragédias e estas perdas não sejam em vão e nos ensinem a ser mais humanos em todos os aspectos das nossas vidas e também no futebol - para além das rivalidades e das diferenças. O futebol tem um poder único de nos unir num amor comum. Para nós é o Vitória, para outros o nome será diferente. Mas em essência, e para aqueles que realmente são apaixonados por um símbolo, somos todos unidos pelo futebol e pelo desporto em geral. Que possamos aprender a encher as bancadas dos estádios com os nossos cânticos e o nosso amor. Que o façamos, sempre que conseguirmos. Hoje as bancadas estão em silêncio, a dor é diferente de qualquer outra. O que torna então o futebol, que parece tão insignificante depois de uma tragédia destas dimensões, tão especial? A solidariedade, o humanismo, a compaixão, a empatia. Hoje somos todos Champecoense, hoje ainda queremos confortar aqueles que longe sofrem porque perderam os ídolos, os amigos, os colegas, a família. Não os conhecemos, mas queremos confortá-los. Por causa do futebol. E é isto que, mais do que outra coisa, faz o futebol ser tão apaixonante. Todos, sem excepção, serão para sempre lembrados.

Por fim, e apesar de saber que as minhas palavras não são nada, as minhas sinceras condolências às famílias e amigos de Nuno Greno e de todos os que iam naquele avião. 



quarta-feira, 23 de novembro de 2016

A simbiose perfeita


Já exprimi, aqui no blogue, a minha confiança na equipa que nos representa. Acho que temos uma equipa com qualidade, muito lutadora, que nunca desiste do jogo (e isto é muitíssimo importante), com alternativas de confiança e que está a dar provas de ser consistente. Os números não mentem. A vitória no Bessa para a Taça de Portugal foi a quinta vitória consecutiva em jogos oficiais e foi o oitavo jogo sem perder. São números interessantes e que nos dão alento e confiança para continuar. Acredito que o caminho que estamos a trilhar nos vai levar a sítios muito bonitos.

Sobre o jogo do passado Domingo há ainda muito a dizer, pese embora já se tenha dito muito - principalmente pelos adeptos, porque para a comunicação social um jogo sem vermelho, verde ou azul tem pouco ou nenhum interesse. O melhor será começar pelo inicio, que foi muito antes do apito inicial. O amor que caracteriza os adeptos vitorianos, o carinho pela competição em questão, aliado a uma antiga disputa entre os dois clubes que ainda é bem presente, prometia uma deslocação em massa ao Estádio do Bessa. Para quem passava na estação de comboios de Guimarães por volta das 15 horas isso já era evidente. Mais de uma hora antes da hora prevista para sair já havia um vitoriano em cada canto e recanto, devidamente equipado. Se havia alguma dúvida, a rapidez com que os comboios encheram foi esclarecedora: íamos jogar em casa. Mais uma vez. A viagem até à estação da Campanhã, no Porto, fez-se tranquila e rapidamente e uma deslocação que tinha tudo para correr bem acabou por se tornar frustrante.

Ao contrário do que aconteceu na época transacta, desta vez os cerca de quatro mil vitorianos ficaram retidos na estação de metro. Num espaço demasiado pequeno e demasiado quente, íamos cantando o mais alto que podíamos, muito desconfortáveis e muito apertados, sem saber muito bem aquilo que se estava a passar. Pessoalmente achei que era uma questão de minutos para garantir que estávamos todos e que era seguro continuar o percurso. Rapidamente me apercebi que os minutos estavam a demorar muito a passar. O relógio já ia avançado e, como já conhecia o percurso que ainda tínhamos pela frente, percebi que dificilmente chegaríamos a tempo. Esses minutos transformaram-se numa hora (eu demorei cerca de uma hora a sair para a estação de metro, mas houve quem ficasse lá retido ainda mais tempo). Sem aviso prévio, sem recibo e sem nos ser dado nenhum bilhete, a polícia estava a cobrar 1€ a cada vitoriano (para quem foi o dinheiro?) e por isso os adeptos estavam a passar a conta-gotas, em grupos demasiado pequenos e com demasiada lentidão. Só a muito custo e depois da insistência e assobios dos adeptos, a polícia ia deixando passar as crianças devidamente acompanhadas pelos pais - infelizmente nem essa consciência tiveram.

Depois de chegar à estação tivemos de esperar pelo metro, para nos juntarmos aos grupos que já estavam prontos a seguir para o estádio, perto da Casa da Música. Faltava cerca de um quarto de hora para o apito inicial e já estávamos cientes de que não íamos ver todo o jogo que pagámos para ver. Às 19h15 já se ouvia o relato e até se conseguia ver o jogo... através do ecrã do telemóvel. O percurso decorreu tranquilamente, com os melhores adeptos do mundo a invadir as ruas e ruelas do Porto, sempre a cantar, a ser constantemente aplaudidos e filmados pelos transeuntes e por quem acorria à janela para ver o espectáculo. Quando chegamos ao estádio só queríamos entrar o mais rapidamente possível, afinal já estávamos quase meia hora atrasados. Entrei mesmo a tempo de festejar o golo de Soares, marcado da linha de grande penalidade, enquanto muitos ainda festejavam fora do estádio. Não vi os primeiros vinte e sete ou vinte e oito minutos nem sequer vi o lance que deu origem ao penalti. Cheguei e festejei, no exacto momento em que os poucos adeptos que estavam do outro lado do estádio levantavam uma tarja a chamar-nos pequeninos (voltaram a levantar outra tarja, a dizer o mesmo por outras palavras, mais tarde enquanto nós, munidos "só" do nosso amor pelo Vitória, lhes íamos mostrando o quão grandiosos somos).

O Boavista conseguiu empatar, e nós cantávamos mais alto. Pensei que estávamos sozinhos no estádio. Os vitorianos acreditavam e puxavam pela equipa, o décimo segundo jogador não deitava a toalha ao chão - nem ninguém o fazia dentro de campo. O marcador não se mexeu e levar o jogo a prolongamento foi inevitável. Os nervos estavam à flor da pele e o coração já batia muito rápido. Então cantávamos ainda mais alto, para que se ouvisse melhor. Os jogadores boavisteiros atiravam-se para o chão e provocavam quem estava no banco vitoriano. E nós cantávamos ainda mais alto. O tempo passava. E nós cantávamos mais alto. Acredito que Hurtado, com uma visão privilegiada, se tenha inspirado na moldura humana que tinha diante de si para bater a bola. O nervosismo era palpável. Só passou quando a bola trespassou a linha de fundo. Golo! O jogo ainda não tinha acabado, mas ninguém tinha dúvidas de que aquela vitória já era nossa.

Ouviu-se o apito final. Era irreversível. Aquele triunfo já ninguém nos tirava. No entanto, e numa competição tão bonita e histórica, o espectáculo dentro de campo não terminou da melhor forma. Sem me alongar muito neste assunto até saber quais vão ser os castigos (que têm de ser obrigatoriamente severos e céleres, como foi com Marega), só tenho a dizer que comportamentos destes não dignificam em nada o futebol. Pelo contrário. O futebol não é violência e quem optar por ser tão sujo (e isto já não é novidade no Boavista), não tem lugar nenhum no futebol. O Miguel Silva foi pontapeado por alguém do staff adversário e foi agredido por dois jogadores - isto é o que se vê nas imagens, ainda antes das equipas recolherem aos balneários. Quanto ao que se passou no túnel só os envolvidos podem esclarecer o que realmente se passou, mas espero que hajam imagens - o estádio do Boavista tem câmaras em tudo o que é sítio, espero que o túnel não seja uma milagrosa excepção. A violência não se ficou dentro das quatro linhas. Antes do início do jogo um casal vitoriano na casa dos sessenta anos foi violentado e roubado nas imediações do estádio e, segundo consta, sob uma polícia serena e nada interventiva. Não desejo a despromoção a ninguém, porque sei o quanto isso custa a quem ama verdadeiramente o símbolo, mas sou da opinião de que quem não sabe estar... não merece estar. O Vitória volta ao Bessa daqui a menos de um mês. Convém que até lá sejam tomadas medidas adequadas e que o Vitória seja publicamente defendido por quem de direito. Quem nos ataca, seja de que forma for, não pode sair impune. As críticas à arbitragem por parte dos axadrezados não passam de uma tentativa de tirar o foco do verdadeiro problema que foi a constante violência - e não falo só do que se passou depois do final do jogo. O "nosso" Rafael Miranda teve de sair porque lhe fracturaram uma costela. Deve pontapear-se a bola, não o jogador.

Por fim, e depois de mais de meia hora de espera dentro do Bessa, fizemos o percurso a pé de regresso à estação, e depois de metro para a Campanhã para voltar finalmente à cidade berço. Mais uma vez a polícia não nos tratou da melhor maneira. O que já não é nenhuma surpresa. Fizeram-nos esperar à porta da estação de metro durante cerca de vinte minutos. Iniciamos a viagem de regresso a Guimarães precisamente à meia-noite. Foi a minha segunda viagem ao Porto esta época a acompanhar o Vitória - a primeira foi no início de Setembro, ao Dragão, e agora ao Bessa. Duas deslocações que podiam ser tranquilas mas em que fomos mal recebidos por uma organização incapaz. Nestas duas deslocações puseram os vitorianos sob situações de grande tensão e, das duas vezes, houve agentes de "segurança" a provocar deliberadamente adeptos vitorianos com o sorriso arrogante que só um bastão lhes dá. Recuam sempre, quando percebem que estão a ser filmados. Fazem-no porque sabem do comportamento errático que têm connosco. Só connosco. Estas situações não se podem repetir. Acabam por afastar os adeptos dos estádios, por muito grande que seja o amor. Os pais ficam com medo de levar os filhos. E todos sabemos que futebol sem adeptos não é nada.

Agora, e uns dias depois do jogo, ainda me lembro da cara de cada jogador naqueles épicos momentos depois do jogo acabar. Os olhares de admiração e os sorrisos de agradecimento enquanto estavam ali, à nossa frente, a cantar connosco. Cada um deles era um de nós. Éramos todos uma equipa - já não interessavam as distinções. Éramos um grande grupo de pessoas unidas por um amor comum que tentamos engrandecer de formas diferentes. O que eu vi nenhuma câmara filmou mas eu gostava de mostrar aquilo ao mundo e perguntar a toda a gente se realmente não conseguem entender. Não há forma melhor de explicar o que é o Vitória. Na minha cabeça, em repetição, estavam as palavras de Carlos Daniel de há uns anos, e que ainda hoje me arrepiam: "eles tornaram-se ídolos dos próprios ídolos". A simbiose perfeita. Apesar de todos os pontos negativos que referi - que não foram queixas, de forma nenhuma - tudo valeu a pena. Já me perguntaram, inúmeras vezes, porque é que não fico em casa. Não gastava dinheiro, não passava frio, não apanhava chuva nem passava por muitas situações desconfortáveis. Ficava confortavelmente sentada no sofá, como muitos fazem. Era mais fácil, de facto. No entanto eu não seria tão feliz. Então vou, vou sempre. Vou depois de uma derrota, vou depois de ficar doente, vou depois de eles dizerem (e fazerem tudo) para não irmos. Vou sempre, e não sou feliz se não for. Os momentos protagonizados pelos vitorianos nas bancadas do Bessa foram um verdadeiro hino ao futebol, a Guimarães, a todos os que apoiam o clube que amam, o clube da terra, o clube que os representa. Perdoem-me se, com tantas palavras, não consegui expressar a nossa grandiosidade. Não consigo pensar em palavras que façam justiça àquilo que vivi (vivemos). As palavras ainda me faltam, ou ainda não foram inventadas. Mas se vos perguntarem o que é que aconteceu, afinal, de tão especial no Bessa, digam-lhes que viveram o Vitória. Eu vivi o Vitória. Um dicionário completo não seria suficiente para explicar isso.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Isto (também) é o Vitória

Foto: Vitória SC
Tenho sempre a sensação de que os fins-de-semana sem futebol (as selecções jogaram, eu sei, mas não é a mesma coisa) são aborrecidos, maçadores e chatinhos. Acredito que é um estado de espírito comum a todos os apaixonados por futebol e independente das cores de cada um. Afecta-nos a todos. Apesar disto, a interrupção dos campeonatos de futebol profissional não implica não haver Vitória. Este fim-de-semana foram muitos os conquistadores a entrar em campo para lutar pelo nosso símbolo e o rescaldo é muito positivo. Mais uma vez os nossos atletas mostraram estar à altura da camisola do Rei e mostraram merecer o apoio de todos os vitorianos e, sem as equipas A e B de futebol, foi um fim-de-semana "à Vitória". Há uns tempos disseram-me que o Vitória devia era "investir tudo no futebol e deixar as modalidades" e eu, naturalmente, discordei. O Vitória sempre foi, e é, muito mais do que uma equipa de futebol. É uma instituição ecléctica (das mais eclécticas de Portugal) e contrariar isso seria contrariar a nossa própria identidade. Tenho um tremendo orgulho em todos os nossos atletas e tenho a noção de que, apesar da pouca atenção que recebem, contribuem muito para o crescimento do Vitória. Tento acompanhar as modalidades sempre que posso e nunca me senti desiludida. Há resultados negativos, como é óbvio, mas nunca vi um atleta desrespeitar o nosso símbolo ou sair do pavilhão de cabeça baixa. Lutam até ao fim, são resilientes e apreciam o símbolo que carregam. Isso é, para mim, uma definição do que é ser vitoriano.

As equipas masculinas séniores de basquetebol e voleibol jogaram em casa e deram boas indicações ao conquistar os três jogos disputados. A equipa masculina de basquetebol venceu por 66 - 62 a UD Oliveirense e conquistou, assim, a primeira vitória caseira do campeonato. Pedro Pinto esteve em destaque: 18 pontos e 5 assistências. À 6ª jornada, o Vitória encontra-se no 5º lugar, com 9 pontos e em igualdade pontual com AD Ovarense e FC Porto. A próxima jornada, novamente em casa, é precisamente frente ao FC Porto e é "obrigatório" ganhar. O jogo disputa-se no próximo Sábado, dia 18, pelas 18 horas no pavilhão do Vitória. Depois de três derrotas consecutivas, a equipa feminina venceu pela primeira vez na 1ª divisão na casa do JuveMaia por 42 - 51. As nossas conquistadoras, que ascenderam à 1ª Divisão, ocupam a 5ª posição do campeonato com 5 pontos, em igualdade pontual com mais duas equipas. O campeonato não começou da melhor forma mas o mais importante nunca é como começa, mas sim como acaba. Na próxima jornada as nossas meninas recebem o Guifões S.C., pelas 21 horas de Sábado. O voleibol masculino do Vitória disputou uma jornada dupla que foi sinal de conquistas a duplicar. Depois de duas derrotas consecutivas e nenhum ponto conquistado a equipa mostrou-se capaz e resiliente e entrou em competição da melhor forma. No Sábado venceram o VC Viana por 3-1 e no Domingo venceram por 3-0 o Sporting Clube de Caldas. Bruno Cunha esteve em claro destaque ao concretizar 19 pontos em cada jogo. A equipa encontra-se no 5º lugar, com seis pontos. A equipa feminina, infelizmente, saiu derrotada fora de portas pelo São Mamede de Infesta por 3-1. (Infelizmente não consigo encontrar a classificação nem o calendário da equipa feminina de voleibol do Vitória - nem no site oficial do clube nem em nenhum lado.) Depois do empate caseiro a 7-7 frente ao CNAC, a equipa sénior de pólo aquático foi a Felgueiras conquistar a primeira vitória no campeonato frente ao FOCA, no passado sábado, por 8-9. Apesar da entrada em falso no campeonato, com uma derrota pesada em Alvalade, na antecipação da 4ª jornada (disputada ainda antes do arranque oficial da temporada) a equipa parece ter encontrado o rumo e está bem posicionada na tabela classificativa: depois de três jogos disputados encontra-se no 4º lugar com o total de 4 pontos e apenas a 2 pontos dos primeiros três classificados. A próxima jornada, frente ao CDUP, tem lugar no próximo sábado pelas 19:30 na cidade berço!

Sem futebol profissional, foram os nossos pupilos a conquistar! Os juvenis, liderados por Luís Filipe, garantiram, com a Vitória por 2-0 sobre o Varzim, a passagem à segunda fase do campeonato nacional da sua categoria. A vitória podia ter sido ainda mais expressiva, não fosse um penalti falhado ao cair do pano. Os golos foram apontados por Alberto e por Horvath, o central húngaro que se estreou a marcar. O Vitória foi o terceiro apurado, com 23 pontos e com a melhor defesa do campeonato - sofreram apenas sete golos nos onze jogos disputados -, com o ataque a ser dos mais eficazes, com 23 golos marcados. Os nossos iniciados alcançaram, também eles, uma vitória por 2-0 frente ao Palmeiras e encerraram, assim, uma 1ª Fase brilhante. Em 11 jogos empataram uma vez e venceram... dez! Conquistaram, com mestria, o primeiro lugar com trinta e um pontos. São números que prometem não só a continuação de uma boa época mas que também nos dão garantias quanto ao futuro. Foi um bom fim-de-semana para a formação vimaranense e, neste ponto, não posso fazer referência apenas ao (nosso) Vitória. Os iniciados do Moreirense foram históricos: carimbaram, pela primeira vez, a passagem à 2ª Fase. Num campeonato em que o Vitória se apura em primeiro lugar e o Moreirense em quarto, é Guimarães que fica a ganhar. Parabéns a ambos os clubes, ao do meu coração e ao "vizinho"! É um orgulho ver que Guimarães consegue ter dois clubes na 1ª Divisão do campeonato nacional e que consegue fazer tanto no futebol de formação, contrariando o centralismo bacoco que se vive em Portugal. Que sejamos capazes de fazer ainda mais no futuro. Somos Guimarães!

P.S.: O nosso atleta Manuel Mendes, medalhado paralímpico e uma força da natureza, foi condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa na última quarta-feira e não se esqueceu das suas raízes. Nas palavras do próprio "esta é também uma conquista dos vimaranenses e vitorianos" e ainda prometeu fazer "tudo para tentar estar em Tóquio". Por tudo o que já deu ao Vitória, e por levar sempre o nosso nome consigo honrando-o tão bem, nunca será demais agradecer. Obrigada conquistador!

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A camisola

Foto: Vitória SC
O jogador perfeito é uma utopia. Por ser humano, e não uma máquina, é falível. Todos os jogadores erram, eventualmente. Há erros que são aceitáveis e desculpáveis, outros nem tanto. É uma linha ténue e é sempre subjectivo. O Marega chegou ao Vitória no início da época, na condição de emprestado, e se não era uma aposta dos vitorianos em particular e era ridicularizado nas redes sociais, rapidamente se apressou a mostrar serviço. Hoje lidera isolado e confortavelmente a lista de melhores marcadores do campeonato português, com dez golos em nove jogos. São números impressionantes e que, de facto, foram de extrema importância para a caminhada do Vitória até ao momento. O Marega não é um miúdo que se está a estrear na primeira liga. É um homem de vinte e cinco anos que já tem experiência na primeira liga portuguesa e, se é verdade que - acredito eu - nunca se deparou com adeptos tão apaixonados e exigentes como nós, vitorianos, não é menos verdade que provavelmente nunca foi tão acarinhado como estava a ser em Guimarães. Sejamos coerentes: Marega conquistou a difícil massa associativa vitoriana com o seu trabalho e qualidade e, pelo que fez até hoje dentro das quatro linhas temos de lhe estar agradecidos. No entanto Marega revelou-se um jogador problemático nos últimos jogos.

O maior objectivo de qualquer jogador, seja ele quem for, que integre qualquer equipa vitoriana - seja futebol, basquetebol ou pólo aquático - tem de impactar o mais positivamente possível a equipa. Isso significa contribuir em campo mas significa muito mais do que isso porque um jogador não pode resumir-se só a um indivíduo que até sabe dar uns bons toques na bola. Um jogador, principalmente do Vitória, tem de ser muito mais do que isso. Para além das qualidades óbvias que são indispensáveis, tem de ser um jogador de equipa e que pense no jogo em função da equipa, deve ser um jogador minimamente inteligente e que não contribua, de forma nenhuma, para a desestabilização do plantel (para isso já há quem esteja sempre disponível). Isto não é um jogador perfeito. Já tivemos excelentes jogadores que erraram, temos jogadores que erram e vamos certamente ter jogadores que vão errar. Faz parte do processo de crescimento. Só que esses erros não podem ser consistentes nem podem ameaçar o balneário ou o desempenho da equipa e, quando se comete um erro, deve assumir-se, tomar responsabilidade, estar preparado para acatar toda e qualquer consequência e imediatamente pedir desculpas, se estas forem sinceras.

O primeiro embate, digamos assim, de Marega com os vitorianos deu-se no Estoril. A reacção que teve, aquando da sua substituição, foi exagerada, infantil e demonstrou falta de disciplina. Pode ver-se a sua atitude por duas perspectivas: o maliano não aceitou a substituição ou, como vi nas redes sociais, ficou chateado consigo próprio por não ter o desempenho que queria. Pessoalmente, e é só a minha opinião, inclino-me mais para a primeira opção. Se foi esse o caso, em dois minutos desrespeitou o treinador, seu superior, o colega que o ia substituir em campo e por extensão toda a equipa. Foi uma atitude que me pareceu grave mas em que não vi necessidade de amplificar e por isso mantive-me quase isenta de expressar a minha opinião, embora a tivesse naturalmente. Pareceu-me uma situação que devia ser resolvida internamente e confio na capacidade de Pedro Martins em gerir o balneário e todas as situações mais complicadas que possam surgir. Marega foi titular em Vila do Conde e redimiu-se com um hat-trick. Os milhares de vitorianos na bancada nascente perdoaram e o jogador até teve direito a cânticos ensurdecedores. Os desentendimentos estavam no passado e Marega no presente, a ajudar a equipa. Como devia ser. Menos de uma semana depois o Vitória recebeu o Nacional e Marega voltou a ser a figura do jogo, infelizmente pelos piores motivos. Não demorou trinta minutos até lhe ser exibido um justo e inquestionável cartão vermelho. A culpa, essa, é de Marega. Viu o vermelho directo por falta de inteligência. A agressão surge de forma inesperada num jogo que começou muito mais calmo do que o jogo anterior, nos Arcos. O grande problema, e isto não diminuí a gravidade da agressão física repentina a um jogador adversário, é que a agressão foi o início de um emaranhado de situações caricatas e profundamente desnecessárias e tristes que se seguiram e que ainda, admito, me parecem confusas. O que eu vi, primeiramente no estádio e depois através das imagens televisivas, foi Marega a agredir gravemente o jogador do Nacional, ser expulso e, ao invés de acatar essa decisão inteligentemente e dirigir-se aos balneários, voltou para pedir explicações e, quando os colegas de equipa o tentavam acalmar e dispersar a tensão, repeliu Soares e fez uns gestos para a bancada que parecem ser dirigidos aos familiares (a percepção que tive no estádio foi outra, e era bem pior). O que se soube, logo depois do jogo terminar foi que o jogador abandonou imediatamente o estádio com a família, alegadamente sem permissão de qualquer responsável do Vitória. Estas situações levam-me a crer que o Marega é um jogador emocionalmente instável, indisciplinado, com problemas de controlo, despreocupado e frio o suficiente para abandonar a sua equipa e os seus colegas numa situação em que só se pode culpar a si próprio.

A discussão, essencialmente nas redes sociais, gira em torno de uma pergunta: deve Marega voltar a vestir a camisola do Rei? As opiniões dividem-se e não há forma de chegar a um consenso. Permitam-me que, por momentos, me desvie do tópico principal desta crónica. A camisola do Vitória é de um peso considerável no panorama português. O nosso símbolo é histórico, não só no futebol. A história vitoriana está intimamente ligada com a fundação do nosso país e com todas as lutas travadas para alcançar o objectivo da independência. Cada jogador, adepto, gestor ou treinador que represente o Vitória e que vista a camisola é, para além de um profissional ou de um sócio pagante, um embaixador do clube. Por isso mesmo vestir a camisola do Vitória é de uma extrema responsabilidade e, precisamente por isso, não está ao alcance de todos. Todos aqueles que a vestem, têm de ter consciência de que a camisola é constituída por duas partes. A parte da frente é constituída pelo símbolo, estrategicamente colocado sobre o coração, e a parte de trás tem o nome do jogador. Quem enverga a branquinha não se pode esquecer que a parte da frente da camisola é infinita e inquestionavelmente mais importante do que qualquer nome que esteja escrito atrás. A camisola do Vitória já conheceu muitos nomes. Uns vão ficar para a história, e fizeram de Guimarães uma casa onde serão para sempre acarinhados, enquanto que outros, talvez por não compreenderem a sua insignificância perante o Rei, deixam de ser bem-vindos. Cabe a cada jogador decidir de que lado quer estar. Não sei tudo o que se passou depois, não ouvi o Marega, não conheço o contracto de empréstimo selado com o Porto e por isso mesmo não sei o que vai acontecer a seguir. O que eu sei é que nenhum jogador é, ou será algum dia, maior do que o Vitória. Seja qual for o desfecho deste triste episódio, tenho a certeza absoluta de que nós vamos continuar fortes. O Vitória não é só um jogador e, como se já se viu, tem uma equipa e um colectivo de qualidade que, aliada à força do décimo segundo jogador, esse que não é passageiro e ama eternamente, pode conseguir cumprir e superar todos os objectivos a que se propõe. Não sei se o Marega vai voltar a vestir a nossa camisola mas sei que, se assim for, vai ter de se mostrar humilde e vai ter de trabalhar muito, mas muito, para um dia voltar a merecer o meu aplauso, se é que algum dia o conseguirá. Tenho as minhas dúvidas. Quem não entender que o Vitória é superior a qualquer individualidade então não está cá a fazer nada e a porta é a serventia da casa.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Vínculo inquebrável

Foto: Pedro Cunha
Dificilmente se vai além do ordinário nas bancadas portuguesas. São muitas as razões que contribuem para isso mas este não é o sítio nem a altura para as enumerar. Vejo, demasiadas vezes, clubes que não têm apoio, que mal conseguem sobreviver e que vêem os seus estádios cheios apenas para apoiar certas equipas adversárias. Para quem gosta de futebol é uma realidade triste e desoladora. O futebol, em si, pode ser bonito mas no final do dia, e se formos frios e claros na análise, são vinte e dois homens a correr para disputar uma bola. O que torna, afinal, o futebol numa modalidade tão apaixonante? Talvez não haja uma resposta certa. Há até quem não reconheça a esta modalidade tais características. Eu cresci com esta percepção do futebol, em grande parte por causa dos adeptos do Vitória.

É praticamente impossível não perceber a ligação entre o Vitória, Guimarães e os vimaranenses. É um vínculo inquebrável. Para quem não sente fica difícil entender. Para quem entende, quem sente, é difícil encontrar as palavras que descrevam esta ligação. Eu gosto muito, muito de palavras. No entanto reconheço que em muitas ocasiões as palavras não são suficientes, não chegam. Há momentos que transcendem as palavras. O Vitória é um traço de identidade de todos os vitorianos. Não é um clube, uma instituição, um entretenimento de fim-de-semana, lazer. Por isso é que todos os vitorianos fazem tanta questão de cuidar, de nutrir e fazer crescer o Vitória. Não é chauvinista nem arrogante afirmar que ser do Vitória é ser diferente e único.

Os vitorianos já deram inúmeras provas de que é possível transcender o normal, o básico, o ordinário, o constante. O último jogo foi uma oportunidade de dar mais um espectáculo dentro do espectáculo. Protagonizado pelos do costume: os vitorianos, claro. Cerca de quatro mil vitorianos viajaram de Guimarães até Vila do Conde. O mais admirável é que o Vitória não mobiliza só as suas claques, que são fundamentais para organizar e motivar o apoio nas bancadas. O Vitória mobiliza famílias! Assim que cheguei às imediações do estádio vi, para além dos grupos de amigos, crianças com os pais e os avós, em família. E esse é um dos propósitos do futebol: a união e os momentos bonitos que devem ser partilhados com aqueles de quem mais gostamos.

Vou ao futebol há muitos anos. Já fui muitas vezes ao Estádio dos Arcos e conheço a maioria dos estádios dos clubes da primeira liga. Conheci-os sempre a acompanhar o Vitória. A força humana que vi e a unicidade que senti em Vila do Conde ainda me surpreendeu, apesar de todos os momentos maravilhosos e inesquecíveis que já vivi ao lado de muitos daqueles vitorianos. Não porque eu duvidava da nossa força, do nosso poder, do nosso amor. Não, não é isso. Eu sei do que os vitorianos são capazes. Ainda assim fiquei positivamente surpreendida e fiquei feliz. Tantos anos e tantos jogos a acompanhar o Vitória e ainda me emocionei quando os vitorianos levantaram os seus cachecóis e, em ritmo lento, começaram a cantar. As vozes encheram rapidamente o estádio e eu senti que se ouvia em todo o mundo. Olhei para o lado direito e só conseguia ver cachecóis. Do lado esquerdo a visão era a mesma. Olhei para trás e só via vitorianos, as camisolas iguais às minhas, os cachecóis a representar o Rei. O jogo já não tinha interesse. O que interessava era aquele momento, só aquele momento de uma beleza indescritível. Há quem tente negar a nossa grandeza com argumentos disparatados. Para quem esteve lá - na nossa bancada ou na outra - essa grandeza é inegável. Uma demonstração de apoio assim não dá margem para qualquer dúvida. Não estamos quase a ser campeões, não estamos em competições europeias, não temos ganho vários troféus nas últimas épocas. Isso não nos interessa. Somos do Vitória, independentemente do resto.

Dentro das quatro linhas os branquinhos estiveram à altura, com Marega a marcar um hat-trick e a isolar-se como melhor marcador do campeonato. O Vitória encontra-se no quinto lugar na tabela classificativa, a apenas um ponto do quarto lugar e a três pontos do segundo e terceiro classificado. Estamos a fazer o nosso caminho e estamos a cumprir. A continuar assim, com um bom desempenho da equipa e com o 12º jogador em máxima força e sempre presente, podemos fazer uma época muito bonita e começar a recuperar o lugar que nos pertence por direito. Quanto a nós, resta-nos fazer o que sabemos fazer melhor: ir ao estádio e mostrar que o Vitória não caminha sozinho. É mais um desafio que certamente será superado mais facilmente com as bancadas compostas e com o nosso apoio de sempre. O décimo segundo jogador foi, e é sempre, o homem mais importante do jogo. Comecei por perguntar o que torna o futebol numa modalidade tão apaixonante. A minha resposta pode ser condicionada, mas a verdade é que é a única explicação que encontro. O futebol é tão apaixonante por causa dos vitorianos e de adeptos como estes. Adeptos que são incondicionais e apaixonados. Enquanto estivermos presentes, o Vitória será sempre O grande.