terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Destino: Jamor

Foto: Vitória SC
A Taça de Portugal é, talvez, a competição mais querida da maioria dos adeptos portugueses e, acredito, é a mais acarinhada pelos vitorianos. É o palco dos sonhos para todas as equipas. É o nosso palco dos sonhos. Os jogos têm um sabor diferente, todos querem ganhar, o estatuto tem pouca ou nenhuma relevância, a classificação do campeonato não significa nada e as equipas agigantam-se na expectativa de pisar o relvado do Jamor e, quiçá, levantar a tão cobiçada taça. Todas as equipas têm uma certa urgência em ganhar e isso é, porventura, a característica que torna esta competição tão bonita.

O Vitória entra em campo amanhã para disputar o primeiro jogo da meia-final, dentro das muralhas da nossa cidade. O adversário é o Chaves, outro emblema histórico português que tem uma massa adepta muito dedicada. Esta era a final que eu gostaria de ver no Jamor. Na impossibilidade de isso se poder concretizar quero, naturalmente, que o (meu) Vitória chegue ao Jamor e, mais do que isso, que volte a levantar a taça. Esse é o sonho, mas não vai ser fácil. Entrar em campo a achar que sim é um erro e pode ser fatal. O Vitória não está na sua melhor fase e, apesar da importante vitória caseira frente ao Moreirense, tem de batalhar muito para conseguir conquistar este jogo. O ideal é conseguir uma vantagem confortável sem sofrer golos.

Já fui duas vezes ao Jamor ver o Vitória disputar a final da Taça de Portugal. Em 2011 vi, com muita tristeza, o Vitória ser derrotado pelo Porto por 6-2. Uma derrota pesada que doeu a todos os vitorianos. Ao deixar a bancada do Jamor só queria voltar lá outra vez. Queria vingar-me daquele resultado e queria ver o capitão vitoriano finalmente levantar a taça. No ano seguinte ficamos pelo caminho muito cedo, na casa do Desportivo das Aves. Estava no estádio, e a derrota foi quase tão dolorosa como na final uns meses antes porque deitava por terra a hipótese de voltar ao Jamor, deitava por terra a hipótese de vencer a taça. Na edição seguinte, um percurso tumultuoso levou-nos ao Jamor. Na 3ª eliminatória, a vitória foi categórica sobre o Vilaverdense. De seguida, a vitória na casa do homónimo de Setúbal, com o jogo a decidir-se nas grandes penalidades. Nos oitavos-de-final, a decisão foi adiada outra vez para os penaltis, e a vitória foi arrancada ao Marítimo, longe da nossa casa. Os quartos-de-final tiveram sabor a final, com o Vitória a receber o eterno rival Sporting de Braga. Sofremos, mais uma vez, mas acabámos por ganhar por 2-1. As meias-finais foram disputadas com o Belenenses, com o Vitória a levar a melhor e vencer a eliminatória, disputada a duas mãos, por 3-0. O resto é história e é uma história bonita. Foi um momento extraordinário para a família vitoriana e, ainda hoje, indescritível.

Quando olho para as equipas que disputaram as duas finais, em 2011 e 2013, não posso deixar de pensar nas diferenças, que são muitas. E é com facilidade que percebo ainda melhor que a verdadeira essência do Vitória somos nós, os adeptos. Os jogadores - os que perderam e os que ganharam - passam, saem do clube, vestem outras camisolas. Eventualmente todos acabam por sair e por rumar a outros clubes. Mas nós não. Nós nunca vestimos outra camisola, nós nunca queremos segurar outro cachecol, nós nunca deixamos este símbolo por outro. Se voltarmos ao Jamor, no próximo mês de Maio, a maioria dos jogadores que lá estiveram pela última vez ao serviço do Vitória já não vão estar lá, mas nas bancadas vão estar lá muitos dos que estiveram há 4 anos e há 6 anos porque, de facto, somos os únicos que nunca deixam o clube. Amanhã vamos marcar presença uma vez mais e vamos caminhar, juntos, para o Jamor. Assim espero!

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Cinco notas

Foto: aqui.
- O Vitória deslocou-se a Belém numa jornada que os vitorianos esperavam ser de reviravolta, contrariando os maus resultados dos últimos tempos. O Vitória entrou bem e foram precisos apenas dez minutos de jogo para que Hernâni, com muita categoria, fizesse o gosto ao pé. Infelizmente o Vitória viu-se incapaz de segurar o resultado e Miguel Rosa acabou por empatar o jogo pouco depois. O marcador não sofreu mais alterações. Num jogo ameno, principalmente na segunda parte, fica a sensação de que, mais do que um ponto ganho, perdemos dois pontos importantes quando a vitória esteve na mão e ao nosso alcance. A equipa não esteve num dia particularmente feliz, assim como Pedro Martins. Parece-me uma incógnita o porquê de, numa equipa que claramente não estava a funcionar, ser necessário esperar até aos 86 minutos para fazer a última substituição. Compreendia isso numa equipa que estivesse constantemente perto do jogo e com um futebol irrepreensível, mas mesmo assim alguma coisa não estava a funcionar se ninguém fosse capaz de marcar. Rafael Martins, que acrescentou pouco ao jogo, foi substituído demasiado tarde. Marega apesar de não estar no seu melhor período constituí sempre um perigo para o adversário, foi substituído demasiado cedo. Claro que Pedro Martins terá as suas razões e eu, longe de ter as suas competências, não quero questionar o seu trabalho, mas de facto não percebo porque não se arrisca mais.
Estamos no 5º lugar da tabela classificativa com 36 pontos, a 12 jornadas do fim do campeonato. Apesar de ser matematicamente possível lutar por mais, parece-me que é importante ser realista e perceber que o que está ao nosso alcance, neste momento, é o 4º lugar. O 3º lugar está a oito pontos e o 4º lugar apenas a dois. Claro que o único que realmente depende de nós - e é absolutamente indesculpável não o segurar - é o 5º lugar. O Marítimo, depois do empate no derby madeirense, está apenas a 3 pontos. Como no futebol nada é estático, não é uma distância segura, mas o último lugar europeu é o mínimo aceitável e, repito, só depende de nós. 

- As juvenis do voleibol do Vitória foram a Vizela defrontar o Sporting de Braga num jogo a contar para a final da Taça Associação de Voleibol de Braga. Apesar das conquistadoras não terem entrado da melhor forma no jogo, perdendo inclusive o primeiro set, foram as atletas vitorianas a levar a melhor e conquistaram a Taça pelo terceiro ano consecutivo reforçando o domínio categórico do Vitória na região - as nossas juvenis têm vencido não só a Taça, mas também o campeonato regional. É um motivo de orgulho e mais uma prova, no meio de tantas outras dadas ao longo dos anos e não só no voleibol, de que as modalidades enriquecem tremendamente a identidade vitoriana. 

- Ouvi, com atenção, a entrevista do Vice Presidente Armando Marques, concedida a Carlos Ribeiro da Rádio Fundação. Naturalmente há coisas com as quais concordo e outras com as quais discordo. Uma das coisas com que estou absolutamente de acordo é que não ficar, pelo menos, na quinta posição da tabela classificativa seria um falhanço. No entanto, e com tantos assuntos importantes que poderiam ter sido abordados, pareceu-me que Armando Marques passou demasiado tempo a discorrer sobre as críticas. Num clube com a dimensão do Vitória, é normal que sejam diversas as interpretações e que surjam críticas. Rejeita-las é negligenciar a incrível massa adepta do clube. A crítica construtiva é fundamental para o crescimento. Claro que as críticas gratuitas e à pessoa, ao invés de ser às ideias, devem ser veemente condenadas e não têm lugar em lado nenhum. No entanto, e pelo que eu vejo, a larga maioria das críticas são às ideias, por interpretações diferentes e porque todos querem fazer o Vitória crescer. E isso é importante. Há muita gente que despende do seu tempo para fazer o que pode em prol do Vitória, seja isso o que for, e inclua, ou não, críticas. Os vitorianos importam-se muito com a instituição que apoiam e que sentem que os representa. Reprimir essas críticas construtivas, ou condená-las como um acto menos vitoriano (como frequentemente acontece nas redes sociais), é um erro. Quando os vitorianos deixarem de se importar, o Vitória passará a ser um clube como todos os outros. 

- O futebol é muitas vezes manchado por violência desnecessária entre adeptos adversários. Já o disse, e repito hoje, que sou da opinião que a violência não tem lugar em nenhum sector da vida, inclusive no futebol. São muitos os adversários, um grupo restrito de rivais, mas nenhuns são inimigos. Podemos concordar ou discordar, apreciar ou não, mas há espaço para todos. Menos para a violência. O grupo Fúria Azul, afecto ao Belenenses, organizou um convívio com os grupos de vitorianos numa excelente demonstração de desportivismo. Sempre que fui a Belém, fui bem recebida e lembro-me particularmente de um jogo para a Taça de Portugal em que, alternadamente, os adeptos de cada clube iam gritando pelo nome do seu clube, terminando com um aplauso colectivo. É disso que se faz o futebol: paixão, desportivismo, saber estar e saber receber. Um aplauso aos adeptos vitorianos que fizeram a deslocação a Belém e um aplauso aos adeptos do Belenenses, pelo desportivismo. Adeptos que, com fervor, apoiam o clube das suas terras. Portugal precisa, cada vez mais, disso.

- Por fim, e não menos importante, tenho de fazer referência à batalha que Rui Salgado, um dos nossos, venceu. Na altura em que tive conhecimento da situação do Rui contribuí e partilhei aqui um apelo, num pequeno gesto que tentava fazer chegar a situação a mais gente. É com grande satisfação que vejo que o cancro já é passado na vida do nosso conquistador. As bancadas ficaram mais felizes, com toda a certeza! Parabéns, Rui, e obrigada pelo exemplo de superação!

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Berço de campeões

Foto: Vitória SC
O empate caseiro frente ao Porto deixou o Vitória mais vulnerável na tabela classificativa. Depois de um início fulgurante da segunda volta, com uma vitória histórica - por ser a primeira - na Pedreira, os branquinhos estão com dificuldades em somar pontos, consolidar o lugar europeu e, quiçá, lançar-se para o pódio. É impossível uma equipa ser consistente durante toda a época e, eventualmente, há fases menos boas. Seja pelo cansaço colectivo, pelas baixas forçadas ou por qualquer um dos muitos motivos que podem enfraquecer uma equipa. No nosso caso, parece-me que estamos ainda a ressacar da janela de transferências. Ficamos sem dois titulares importantes: João Pedro que, com exibições sólidas e de qualidade, se transformou num pilar da equipa e numa das suas mais importantes referências, e Soares, o segundo melhor marcador da equipa e que se revelou importante para além dos golos que marcou por desassossegar (e muito) a equipa adversária. O primeiro rumou a Los Angeles e o segundo esteve, no último sábado, do outro lado da "barricada". O facto é que já não representam o Vitória e eu sou da opinião de que não vale a pena chorar sobre leite derramado, portanto é necessário acreditar e depositar toda a confiança naqueles que entram no relvado com o símbolo vitoriano ao peito. Eu acredito no Vitória e acredito na equipa, mas o lugar de sonho no pódio parece cada vez mais uma miragem e o lugar europeu começa a parecer estar em risco. 

O terceiro lugar nunca foi um objectivo assumido e, em boa verdade, provavelmente nunca foi um objectivo - assumido ou não. No entanto, a ambição dos vitorianos de ver o clube da sua cidade que fervorosamente apoiam - esteja chuva ou faça sol - combinada com a saudade de ver o Vitória actuar nos principais palcos europeus e de se elevar (ainda mais) no panorama do futebol português deixa-nos sempre com a sensação de que tudo é possível. Inclusive o terceiro lugar. Depois de épocas que ficaram muito aquém das expectativas, depois de épocas de graves dificuldades financeiras e com menos recursos do que aqueles que os adversários possuem. Apesar de todas as contrariedades, os vitorianos acreditaram - e acreditam (?) - num lugar "ao sol". Uma espécie de bonança, muito merecida, depois da tempestade. A primeira volta fez-nos acreditar: a goleada, em casa, ao Paços de Ferreira; a recuperação caseira incrível frente ao Sporting, quando a derrota por 3-0 parecia certa aos 72 minutos de jogo; a boa prestação na Taça de Portugal (que nos faz sonhar com o levantar da Taça no Jamor); a deslocação incrível dos vitorianos a Vila do Conde para ver o hat-trick de Marega a selar o marcador; as duas vitórias - para o campeonato e para a Taça de Portugal - no Bessa. A primeira volta não foi idílica, mas foi boa. Apesar dos momentos de frustração, nomeadamente nos empates inesperados que deixaram os vitorianos com um amargo de boca, a primeira volta foi marcada pela união entre os adeptos e a equipa com muitas demonstrações de amor épicas por esse país fora que, tenho a certeza, contribuíram muitas vezes para a conquista dos tão almejados pontos. Muitas foram as vezes em que saí de estádios adversários a pensar que, se alguém me perguntasse o que é o Vitória eu só os poderia convidar a assistir um jogo para que tivessem a oportunidade de ver a paixão com que "as gentes de Guimarães" levantam os seus cachecóis e cantam, sem saltar nenhuma sílaba, as músicas que sabem de cor.

Depois de disputada a primeira jornada da segunda volta (correspondente à 18ª jornada do campeonato), o Vitória encontrava-se com 34 pontos, a um ponto do 4º lugar (ocupado, na altura, pelo Sporting) e a dois pontos do 3º lugar (ocupado, na altura, pelo Sporting de Braga). O Chaves e o Marítimo, na 6ª e 7ª posição, em igualdade pontual - 27 pontos - não faziam soar alarmes. Os sete pontos de vantagem pareciam deixar seladas as primeiras cinco posições da tabela, sendo que as alterações nesses lugares seriam entre os clubes que já lá se encontravam. Desde a 18ª à 21ª jornada, o Vitória somou apenas uma vitória. O registo é de uma vitória (Sp. de Braga), empate (Marítimo) e duas derrotas (Paços de Ferreira e Porto). Em 12 pontos possíveis na segunda volta, o Vitória conquistou apenas três. Apesar dos adversários directos não terem feito grandes progressos, o fosso para o quarto e, principalmente, para o terceiro lugar aumentou, enquanto que o fosso que separava o último lugar europeu (deve ser o mínimo dos nossos objectivos), que ocupamos, do sexto lugar diminuiu drasticamente. Actualmente o Vitória está a 3 pontos do 4º lugar e a 6 pontos do 3º lugar, sendo que o 6º classificado está a apenas 3 pontos de distância do Vitória. Isto já faz soar alarmes, pelo menos os meus. As próximas jornadas não vão ser fáceis - deslocações tipicamente complicadas (Restelo e Alvalade), a disputa do derby de Guimarães com um Moreirense muito motivado e confiante, e um encontro importante a contar para a Taça de Portugal. 

A próxima deslocação é ao Estádio do Restelo. Fiquei surpreendida quando, ao pesquisar o histórico de confrontos entre estes dois símbolos emblemáticos do futebol português, constatei que é o Belenenses que leva a vantagem. As duas equipas já disputaram 141 jogos no total (a contar para o campeonato, a Taça de Portugal e a Taça da Liga), sendo que o Vitória levou a melhor 45 vezes, empatou outras 34 e saiu derrotado em 62 jogos. Quando restringimos a pesquisa somente aos jogos disputados em casa do Belenenses a história repete-se, sendo que o que sobressaí é que a vantagem é muito mais categórica: os azuis venceram 42, dos 64, encontros, e o Vitória venceu apenas 7. Apesar dos números não serem encorajadores, a supremacia do Belenenses tem sido contrariada nos últimos anos. Nos últimos cinco jogos disputados longe do Berço, o Vitória venceu três vezes e saiu derrotado apenas uma vez. O último encontro, a contar para o campeonato, foi repleto de golos com o resultado final a fixar-se em 3-3. A equipa vitoriana era, na época, comandada por Sérgio Conceição e os golos foram apontados pelos saudosos Bouba Saré e Henrique Dourado, e Filipe Ferreira, que marcou na própria baliza. Do onze inicial preto e branco que pisou o relvado em Belém na última época, apenas Bruno Gaspar, Josué e Pedro Henrique se mantêm, sendo que Miguel Silva, que foi titular, agora se senta no banco, "cedendo" o seu lugar na baliza a Douglas. Espero que no Domingo os adeptos de ambos os clubes possam ver um bom espectáculo de futebol e proporcionar um bom espectáculo nas bancadas - como é hábito - e que seja o tão necessário ponto de viragem no Vitória para consolidar verdadeiramente a presença europeia e, no melhor dos cenários, assaltar o terceiro lugar. A margem de erro é cada vez menor, mas ainda é possível.

Enquanto for possível, eu acredito. Até porque Guimarães é um berço de campeões. Ontem foram premiados, com os troféus desportivos "O Minhoto", vários atletas da região. Muitos dos nomeados e dos vencedores são vimaranenses e foram formados, actuam ou actuaram no representante desportivo máximo da cidade - o Vitória, claro. É, indubitavelmente, um motivo de orgulho, apesar dos vimaranenses e vitorianos reconhecem o valor dos seus todos os dias. Na categoria das Artes Marciais, o atleta de Taekwondo Nuno Costa ganhou o troféu. Atleta da mesma modalidade, Rui Bragança foi o vencedor do Grande Prémio do Júri (Individual). Dois atletas que, apesar de agora pertencerem aos quadros do Benfica, viveram e ganharam muito no e com o Vitória enquanto atletas e que são de Guimarães - e serão sempre, independentemente do clube que representam (com muita pena minha, já não é o Vitória). Na categoria que Rui Bragança venceu, estava nomeado outro vimaranense que leva o nome de Portugal ao mundo: o número um do ténis português, João Sousa - que nunca se esquece das suas raízes nem do seu (e nosso) Vitória. Na categoria de Basquetebol foi o "nosso" Filipe Lima, que actua na incansável equipa de basquetebol vitoriana, o vencedor. O medalhado olímpico Manuel Mendes - vimaranense e vitoriano, enquanto adepto e atleta -, venceu com muito mérito na categoria de Desporto Adaptado. Paulo Oliveira, que nasceu em Vila Nova de Famalicão e actuou no Vitória, fazendo parte do selecto grupo de jogadores que conquistou a Taça de Portugal e que, por isso e por nunca se esquecer do Vitória, é sempre lembrado com muito carinho. Envergando, agora, a camisola do Sporting venceu Nélson Oliveira e Pedro Tiba na categoria de Futebol Profissional. Na categoria de Voleibol, estavam nomeados, para além de uma atleta do Sporting de Braga, Bruno Cunha e João Oliveira, dois atletas do Vitória na modalidade, e foi o último a levar o troféu para casa. Na categoria Treinador, o incrível treinador de basquetebol do Vitória, Fernando Sá estava também nomeado, mas perdeu, com muita pena minha, para Carlos Resende. Um homem que merece o reconhecimento de todos os vitorianos por tudo o que já fez pela modalidade e pelo nosso nome. Em suma, foi um bom dia para o desporto vimaranense e vitoriano. (E é com alguma tristeza que constato que o Vitória ainda não felicitou, através dos seus sítios oficiais, nenhum dos seus antigos e actuais atletas. Espero que o façam. Vitória não é só futebol!)

Para terminar, tenho (sempre) de falar de outros campeões. Aqueles que, jornada após jornada, enchem as bancadas do nosso - ou outro - estádio com amor (e também daqueles que se deslocam aos pavilhões - ao nosso ou a outros - para acompanhar os incríveis e dedicados atletas das modalidades). É admirável e é incrível a atmosfera vivida num estádio praticamente cheio (com a maioria dos adeptos a ser os da casa, contrariando a tendência do que se vive em Portugal), em que se entoam as músicas a uma só voz e em que os cachecóis se atropelam de tantos que são e de tanto os querermos elevar. Isto de apoiar o clube da terra é realmente bonito. Seja a perder ou a ganhar. Não é só bonito, também é admirável. Estes campeões das bancadas que não se movem por troféus, que não se mobilizam por esperar vitórias, que não se importam com o resultado são, porventura, o mais importante jogador da equipa vitoriana. São os nossos valores que nos distinguem dos outros, porque são os nossos valores que nos levam ao estádio - depois das derrotas e depois das vitórias. Percebo, cada vez mais e cada vez melhor, que é tudo uma questão de valores e educação. Percebo, cada vez com mais orgulho, que em Guimarães se vive o que de mais bonito há no futebol: a paixão e o interesse genuínos, baseados somente no amor e na paixão a uma instituição e a uma cidade que se fundem de cada vez que passamos o cartão de associados, de que tanto nos orgulhamos de ter na carteira, no torniquete, de cada vez que passamos um bilhete - que muitas vezes compramos com muito esforço - no torniquete de outro estádio, de cada vez que, com os olhos a brilhar, falámos do Vitória sem sequer mencionar um título ou uma vitória. Estar presente basta, é disso que nos orgulhamos e é disso que nos alimentámos. E é, também por isso, que tenho cada vez mais pena daqueles que nos perguntam pelos nossos títulos com a ironia vincada em cada comentário, como se isso fosse o que realmente importa. Eles não entendem que o nosso amor não se alimenta de títulos e vitórias, não entendem que o nosso amor se alimenta do orgulho que temos daquilo que é nosso e daquilo que faz parte da nossa identidade. Eles não entendem que nós somos a resistência ao fácil. É difícil ser de um clube que não ganha troféus atrás de troféus, que não está sempre bem, que tem muitos problemas. É muito difícil, mas eu não podia imaginar-me a apoiar de outra forma. É muito difícil, mas não podia ser melhor. Afinal, é nosso. Isso não se compra!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

O décimo segundo jogador

Foto: Vitória SC
Depois de encerrada a vigésima jornada do campeonato, parece-me importante fazer um ponto da situação. Olhando para a tabela classificativa, facilmente percebemos que ainda está tudo em aberto. Ainda é muito cedo para declarar um vencedor, mas o título será disputado, provavelmente, entre Benfica e Porto, primeiro e segundo classificado respectivamente. Quem ocupará o sempre apetecível terceiro lugar, que dá acesso ao play-off da Liga dos Campeões, é também uma incógnita. Por enquanto, os candidatos são o Sporting, o Braga e o Vitória - terceiro, quarto e quinto classificado. A corrida aos dois lugares europeus será também entre esses clubes, não ignorando o Marítimo que, depois de uma jornada que lhes correu de feição, parece cada vez mais querer intrometer-se na corrida. Os lugares que ninguém quer, no fundo da tabela, também estão longe de estar atribuídos. Apesar de ser este o apanhado geral possível, depois de vinte jornadas disputadas, todos sabemos que a tabela classificativa não é estática e três ou quatro jornadas são suficientes para alterar muita coisa. E, para o fecho do campeonato, ainda faltam... 14! Isto significa que ainda estão em jogo quarenta e dois pontos.

O que nos interessa é o Vitória e, na minha ambição talvez desmedida de ver o nosso histórico símbolo de regresso aos grandes palcos do futebol europeu, o terceiro lugar. O lugar no pódio não é impossível, mas começa a parecer uma miragem, tantas foram as oportunidades desperdiçadas de dar o salto ou de, pelo menos, começar a preparar o assalto ao lugar que os adeptos tanto desejam. A deslocação a Paços de Ferreira, na última sexta-feira, não correu como planeado e os três pontos não viajaram com a comitiva vitoriana para Guimarães. Num jogo que não pautou pela qualidade, o Vitória conseguiu entrar melhor e ser superior ao adversário na primeira parte. Na segunda parte, o Paços de Ferreira foi inteligente, soube aproveitar as oportunidades e, com mérito, conseguiu a vitória. Os adversários directos do Vitória também não aproveitaram a vigésima jornada para se aproximarem ou consolidarem o terceiro lugar, com a derrota do Sporting no Dragão e o empate caseiro do Sporting de Braga. O Marítimo, por sua vez, manteve os três pontos na Madeira e aproximou-se do Vitória, sendo que agora se encontra a quatro pontos de distância.

O próximo jogo não vai ser fácil para nenhuma das equipas. O Vitória recebe o Porto, ao início noite do próximo sábado. Se é verdade que, no histórico de confrontos, há uma supremacia arrebatadora do Porto, não é menos verdade que, nos últimos anos, a equipa agora sob a tutela de Nuno Espírito Santo não tem tido tarefa facilitada quando joga no nosso "castelo". Os três últimos confrontos, no nosso estádio, acabaram com dois empates e uma vitória. Em 2013/2014, o Vitória perdia por duas bolas a zero e, com golos de Maazou e Marco Matias, conseguiu igualar o marcador. Na temporada seguinte, o Porto adiantou-se no marcador, mas viu Bernard empatar o jogo. nem dez minutos depois. Na última temporada, com Sérgio Conceição ao leme, Bouba Saré marcou o único tento da partida e o Vitória conquistou os três pontos. A primeira das 162 partidas já disputadas entre as duas equipas foi em Guimarães, no Campo do Bem-Lhe-Vai, a contar para a primeira mão dos oitavos de final da Taça de Portugal. Foi em 1939 e os branquinhos conquistaram a vitória, por 3-2. No próximo sábado, voltar a triunfar é de extrema importância. A margem de manobra é cada vez mais reduzida e todos os pontos são de extrema importância para consolidar uma posição europeia e para lutar pelo último lugar do pódio.

Nas bancadas, a vitória é já um dado adquirido, como é habitual. O décimo segundo jogador continua a ser o melhor em campo, o único que não pode ser vendido no mercado de inverno nem em nenhum outro momento, o único que não tem preço e o único que é absolutamente indissociável do símbolo. Posso falar apenas a título pessoal e em consequência da minha experiência. Nunca saí do estádio arrependida de ter feito a viagem e de ter pago o bilhete. Nunca, em nenhuma circunstância, me arrependi de ter ido apoiar o Vitória a nenhum lado. Nem mesmo depois de sair do estádio com a camisola, que estava por baixo de um casaco impermeável, encharcada de água, como foi o caso da última sexta. Nem ouvi nenhum vitoriano queixar-se enquanto chegavam aos carros, estacionados nas imediações do estádio. Muitos depois de um dia de trabalho, muitos ainda sem jantar e muitos, mesmo muitos, sabendo da chuva e das condições nada favoráveis a que se sujeitavam voluntariamente. A tiritar de frio, muitos eram os adeptos que trocavam de camisolas e casacos abrigados nas malas abertas dos carros. O sentimento era de dever cumprido e não de arrependimento. Se fosse preciso voltar ao estádio para mais um jogo do Vitória, mesmo com o frio severo e a chuva inflexível, a grande maioria voltava lá para dentro sem levantar questões. Para nós, ser do Vitória é suficiente. É precisamente por isso que, depois de uma derrota, voltamos sempre todos ao estádio para levantar os nossos cachecóis, com o coração cheio de orgulho. É, ser do Vitória chega.