terça-feira, 14 de março de 2017

No futebol e nas modalidades: (ainda) podemos sonhar

Foto: Vitória SC
O futebol é apaixonante. As reviravoltas, as histórias improváveis de conquista, a união, o sentimento de pertença, a família, o pai que contagia a filha, os golos incríveis marcados aos 90 minutos e que selam a vitória. Infelizmente, e apesar de tudo isso, não é difícil perceber porque é que, da bancada, há quem se sinta cada vez mais afastado da modalidade. Há dias em que o encanto do futebol é manchado e denegrido por quem se julga de direito. Não são casos isolados, são uma constante do futebol português. O Vitória já se viu envolvido em muitas polémicas relacionadas com a arbitragem - seja, não raro, por simples incompetência do senhor do apito, porque a outra equipa, toda poderosa, precisa dos pontos ou porque começamos a incomodar alguém. É neste estado que está o futebol português: sem valores e, portanto, usa-se daqueles valores que, no momento, dão mais jeito. Foi o que fez Tiago Martins, relativamente aos seus critérios. Não gosto de falar das arbitragens, uma vez que está fora do nosso domínio - jogadores, equipa técnica, adeptos e toda a estrutura -, e por isso dispenso alongar-me mais neste assunto. Na flash interview Pedro Martins foi directo, conciso e assertivo. Eu só subscrevo, sem acrescentar mais nada.

Apesar de tudo isto, seria ingénuo imputar a culpa apenas à arbitragem. Podemos apontar o dedo em duas direcções: à arbitragem e a nós próprios. Cometemos erros fatais, não soubemos concretizar e, no final, desperdiçamos a oportunidade de ocupar o 4º lugar, igualando pontualmente o Sporting de Braga, que empatou em Chaves. Infelizmente, é isso que temos dito quase desde o início da temporada: mais uma oportunidade perdida. Quando os outros escorregam, nós também escorregamos. Quando vemos os outros a dar-se mal, nós também nos damos mal. Quando temos uma boa oportunidade somos incapazes de a agarrar. É o fantasma da época. Impediu-nos primeiramente a inexperiência, depois a janela de transferências, depois os jogadores que não estavam entrosados com a equipa e que chegaram com pouco ritmo, depois a arbitragem e pelo quinto lugar andamos, sempre à procura do 4º ou, no melhor cenário, do pódio. Não me interpretem mal. Não estamos a fazer uma má temporada, mas tenho a certeza absoluta que temos (talvez tivéssemos mais em Dezembro, mas ainda temos) armas para fazer uma época bem melhor. E isso é, talvez, o mais frustrante. Digo e repito inúmeras vezes que só interessa o nosso caminho. A nossa época não deve pautar-se por ficar à frente de certos clubes, como se isso fosse uma vitória. Não é. O nosso objectivo no campeonato deve passar por ficar no topo da tabela classificativa, onde pertencemos. No entanto, não deixa de ser frustrante continuar atrás de um Sporting (o de Braga) que é o pior das últimas épocas com um Vitória capaz e que foi anunciado como sendo o melhor dos últimos anos. Podemos argumentar que ainda estamos a disputar a Taça de Portugal, coisa que os nossos adversários directos já não fazem, mas não chega - por muito bom que seja. Júlio Mendes assumiu, finalmente, na conferência de imprensa a vontade de ficar no 4º lugar. Ainda há muitos jogos por disputar e muitos pontos por discutir. É possível, mas temos de ser mais taxativos e não podemos cometer tantos erros. Não vamos encontrar benefícios, apenas dificuldades. Contamos apenas connosco e temos de ser realistas e esperar os erros dos outros - sejam eles propositados ou não; seja o Tiago Martins ou outro qualquer - e isso, automaticamente, diminuí a nossa margem para errar.

Noutros campos, foram outros jogadores a honrar a branquinha. No complexo, os sub-19 bateram o Sporting pela margem mínima e ocupam agora o 2º lugar na classificação, a 2 pontos do Belenenses. Mas nem só de futebol se faz o Vitória. No Domingo foram muitos os vitorianos a deslocar-se ao Pavilhão para apoiar os seniores do basquetebol, que receberam o Benfica. A equipa que nos tem feito sonhar em todas as frentes (vai defrontar a Oliveirense nos oitavos-de-final da Taça de Portugal) fez um excelente jogo frente ao poderoso Benfica e manteve-se na frente a maioria do tempo, muitas vezes com mais de 10 pontos de avanço. Infelizmente a equipa não teve armas para segurar a vantagem e acabou derrotada por 80-85. Os nossos conquistadores estão no 3º lugar, já a disputar a 2ª fase da competição, em igualdade pontual com a Oliveirense e a dois pontos do líder, o FC Porto. No próximo domingo, às 18 horas, é precisamente o actual líder que se desloca ao pavilhão vimaranense num jogo que se perspectiva ser um grande espectáculo. Vamos voltar a fazer deste um Domingo dedicado ao Vitória: primeiro no Pavilhão, depois no Estádio. Não menos importante nos últimos dias foi a vitória do Pólo Aquático. A formação vitoriana deslocou-se a Paços de Ferreira para derrotar o Pacense por 8-10. Está assim apurada para a Final 8 da Taça de Portugal. Não tenho dúvidas de que podemos sonhar com uma época de ouro nas modalidades e que pode ser coroada com a Taça de Portugal em futebol em Maio.

Nas bancadas, onde o apito não chega, os vitorianos voltaram a dar provas da sua unicidade. Ainda que as bancadas não estivessem cheias, estavam preenchidas por mais de 16 mil vitorianos. Um número que mostra a resistência dos vimaranenses em converter-se ao estarolismo e que dá alento a todos aqueles que apoiam o clube da sua terra, num país de mentalidade fraca e tripartida. Não é só no número de espectadores que o Estádio D. Afonso Henriques se diferencia. Na grande maioria dos estádios em que já vi futebol - e não foram assim tão poucos -, na condição de visitante, há focos de apoio no(s) sector(es) onde estão as claques e o resto do estádio costuma ficar acometido numa apatia e num desalento estranho. Em Guimarães não é assim. Em Guimarães as claques envolvem os adeptos "anónimos", em detrimento de os afastar. Na Sul inferior o apoio está sempre garantido e os White Angels e os Suspeitos do Costume acabam por dinamizar o resto do estádio. Na mítica Nascente, a presença dos Insane Guys - menores em número, mas nunca em mentalidade e no apoio - já é tradição. E, as claques juntamente com os restantes adeptos, fazem do nosso estádio um castelo em que o apoio nunca falta e onde os adversários nunca jogam em casa. "Gostar do teu pai, da tua mãe, da tua cidade e do teu clube": é assim que se vê - e se vive, sobretudo - o futebol em Guimarães. E é melhor que se habituem a isso e que se habituem a nós, porque não vamos a lado nenhum e, enquanto houver Vitória, nós vamos resistir.

terça-feira, 7 de março de 2017

Objectivos ao virar da esquina

Foto: Vitória SC
Na última semana o Vitória disputou dois jogos de extrema importância para a época desportiva. Na última quarta-feira recebeu e venceu o Chaves, a contar para a primeira mão das meias-finais da competição rainha do futebol português. Viajou então para Lisboa, para disputar a 24ª jornada da Liga NOS em Alvalade. Importava conseguir uma vitória com muitos golos no primeiro desafio, enquanto que no segundo só importava a vitória que valia 3 pontos, independentemente do resultado. A realidade não é tão boa, mas o balanço da semana, no que à principal equipa de futebol profissional diz respeito, parece-me ser positivo.

O Estádio D. Afonso Henriques foi palco do primeiro confronto da história entre o Vitória e o Chaves a contar para a Taça de Portugal. O clube da casa (e do meu coração) não foi o melhor anfitrião para os flavienses e para a história fica a vitória do Vitória, conseguida com dois golos incríveis de Hernâni. Foi um jogo que respeitou a história. O primeiro jogo de sempre entre as duas equipas foi em Chaves, a contar para a II Divisão na época 1955/1956. Um jogo repleto de golos que acabou com a vitória dos branquinhos por 6-4. Na segunda volta a vitória foi ainda mais categórica: o Vitória marcou por 7 vezes, sem nenhuma resposta. Foi a primeira vez que os transmontanos saíram derrotados de Guimarães. Muitos anos e alguns jogos depois, o Chaves continua sem saber o que é sair de Guimarães com uma vitória. O jogo da última quarta-feira não contrariou a tendência. Apesar de um resultado menos expressivo e de um jogo, acredito eu, mais equilibrado o vencedor foi o do costume. Os dois golos, para além de merecerem ser vistos e revistos, dão a vantagem ao Vitória. A vantagem deve dar confiança - à equipa e aos adeptos -, mas não deve descurar a preparação para o próximo jogo, disputado no Municipal Engenheiro Manuel Branco Teixeira. Entrar no tapete verde com uma postura relaxada e despreocupada é um risco que não podemos correr, especialmente agora que estamos tão perto do Jamor. Devemos entrar sem pressão, afinal é o Vitória quem está em vantagem, mas sem facilitismos. As bancadas, como é hábito no mais belo estádio português, estiveram compostas. Muitos vitorianos e uma falange de apoio flaviense merecedora de aplausos. Tirando os insultos, os apupos e assobios durante os festejos da equipa da casa é assim que as bancadas dos estádios portugueses deviam estar mais vezes: com adeptos que apoiam a equipa da sua cidade!

Depois da vitória caseira, os conquistadores viajaram até Lisboa. Pedro Martins seguiu a máxima de que em equipa que ganha não se mexe e foram os mesmos onze jogadores que subiram ao relvado de Alvalade, com destaque para Miguel Silva que, depois de uma excelente exibição no jogo da Taça de Portugal, recuperou as redes vitorianas no campeonato. Com a vitória do Marítimo a meio da tarde de Domingo, e consequente aproximação pontual ao Vitória, era fulcral pontuar em Alvalade. Para além de fulcral, sabíamos que ia ser complicado. Apesar do jogo da primeira volta ter sido épico (e impróprio para cardíacos), com um empate a 3 bolas, as deslocações ao reduto sportinguista nas duas últimas épocas ainda me faziam mossa. Duas derrotas pesadas, por 4-1 e 5-1, não são facilmente esquecidas. No entanto, a equipa vitoriana entrou no relvado sem fazer caso disso. De cabeça levantada, peito feito e vontade de conquistar fizeram uma primeira parte de muita qualidade, a disputar o jogo de igual para igual. Ao intervalo perdíamos pela margem mínima, mas a exibição dava-me confiança de que o rumo do jogo ainda podia mudar. A segunda parte foi menos frenética, mas igualmente equilibrada. Aos 76 minutos, Marega regressou aos golos. Depois de muitos jogos a fazer por marcar e de muitos outros a merecer o tão almejado golo, desta vez foram os pés do maliano a concretizar a conquista de um tão importante ponto. O resultado não é o melhor, mas é condizente com o que se passou dentro das quatro linhas. Foi um bom espectáculo de futebol, manchado apenas pela exibição pouco satisfatória de Jorge Sousa. No entanto, e quanto a isso, a minha posição é falar o menos possível, como já o disse. Não porque me conformei ou porque acho normal, mas porque pressionar ou coagir árbitros é uma constante no futebol português, amplamente aceite por dirigentes, pelos órgãos responsáveis, pela comunicação social e pela maioria dos adeptos que, cegos de fanatismo, só querem que o seu clube ganhe para poder exibir taças e campeonatos e justificar o seu "amor", o facto de isso custar a verdade desportiva é só um pormenor no meio de tantos outros. 

Com o ponto conquistado em Alvalade, a equipa orientada por Pedro Martins chega ao marco dos 40 pontos. A 10 jornadas do fim do campeonato, estamos no 5º lugar da tabela classificativa. O 3º lugar já se encontra a 8 pontos, mas o também apetecível 4º lugar está a apenas dois pontos e deve ser o objectivo no campeonato. Por agora! Voltar aos primeiros quatro melhores classificados é, sem dúvida, um novo passo para acordar este monstro vitoriano que tem andado adormecido. A final da Taça de Portugal parece estar também muito perto. Depois desta semana com resultados e exibições positivas, temos razões para esperar um término de campeonato que satisfatório. Ainda sem lançar foguetes, sem fazer a festa, sem demasiado entusiasmo. Apenas cientes de que sabemos fazer o nosso caminho, e sabemos fazê-lo bem - apesar de todas as contrariedades, e são muitas -, sem nos perdermos dos nossos objectivos. Cientes de que a luta vai ser muito dura e vai exigir muito trabalho. Mas se há quem mereça o trabalho e o esforço são as gentes de Guimarães. As gentes de Guimarães que a meio da semana marcaram presença no estádio, as gentes de Guimarães que, antes de um dia de trabalho, fizeram uma viagem longa e morosa para apoiar a equipa durante pouco mais de 90 minutos, as gentes de Guimarães que, ano após ano, acompanham o Vitória para todo o lado sem esperar ou pedir alguma coisa em troca, essas gentes de Guimarães que são incansáveis merecem. Nós, os que somos e sentimos o Vitória, merecemos! 
Foto: Joaquim Galante em Vitória SC